Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

Páginas

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Novamente de novo

 

Numa escola, devemos, em cada passo, ser gesto, palavra, atitude, caráter; tudo isto porque interagimos permanentemente, em tudo, uns com os outros (comunidade escolar). E, de nós, todos esperam que sejamos exemplo dentro da missão que nos é confiada, como escola pública: de todos e para todos.

Então, ao intitular este editorial com uma redundância, “novamente de novo”, insistência desnecessária nas mesmas ideias – como é definido no dicionário – não é em vão, sem sentido. Pretende-se enfatizar, apenas, como vamos vivendo na mais nobre das missões de um país: a educação.

Aqui, na educação, vive-se sempre ao ritmo do que é novo.

A novidade faz parte da essência do estudo/aprendizagem: descobrir novos conteúdos, novas ideias, novos conhecimentos; também, como mera ilustração, que não fundamenta nem legitima mas é paradigmático, as mudanças que cada etapa suscita (turma, escola, professores, ano, ciclo, curso, diretor de turma, colegas,…) implicam oportunidades que, elas próprias, têm algo que apontam ao futuro, para a vontade de começar de novo.

E há, “também” nestes universos diários, a essência da arte: os alunos e alunas.

Educar é, antes de tudo, um caminho de reciprocidades desde a mais tenra idade. Portanto, em cada ano mudam os rostos mas continua, no essencial, a juventude, a esperança, a rebeldia, a curiosidade dos jovens que dão vida à escola… também com as peripécias que adoçam o engenho e a arte!

Por fim, sem querer terminar nada, o que não deveria ser tão novo assim: o sistema educativo. Não deveria ser tão novo assim mas, mais uma vez recorrendo a uma pequena abordagem elucidativa, será interessante ter presente um hipotético cenário em que um jovem, de agora, a dois anos de terminar o ensino secundário, que entrou (no sistema) para o primeiro ano em 2002, com os seus seis anitos, o que levará da escola, se não for a estabilidade emocional e racional dos seus professores?

Com um algum gosto pela história recente, poderá, o referido jovem, lá para setembro, contar a um colega mais novo do seu novo agrupamento de escolas: “desde que entrei na escola, já lá vão seis… Ministros (da Educação). Tive, logo no início, o 1º, 3 de Julho de 2001 — 6 de Abril de 2002 — Júlio Pedrosa; depois, 2º, 6 de Abril de 2002 — 17 de Julho de 2004 —David Justino; 3º, 17 de Julho de 2004 — 12 de Março de 2005 — Maria do Carmo Seabra; 4º, 12 de Março de 2005 — 26 de Outubro de 2009 — Maria de Lurdes Rodrigues; 5º , 26 de Outubro de 2009 — 21 de Junho de 2011 — Isabel Alçada; 6º, 21 de Junho de 2011 - Nuno Crato”

Não admira que haja tanta resistência à mudança, há tanta novidade!… Tanta que nenhum jovem chega a suspeitar verdadeiramente por qual sistema de ensino… passou!

E, na linguagem da juventude, “já estamos noutra” (mudança)!

(in Correio do Vouga, 2012.05.16)

terça-feira, 1 de maio de 2012

A construção humana

 

É importante, quando passam dias-efeméride, como o dia 1 de maio, dia do trabalhador, mergulhar um pouco na causa das coisas, na génese da proclamação do dia internacional da reivindicação das condições laborais. Não queremos ir muito além neste assunto, até porque várias vezes já o aludimos. Porém, temos interesse, numa época em que é necessária, como nunca, a reivindicação, nesta época, portanto, e faltam meios e motivação para ela.

A construção humana pode ser, como organismo vivo, a aplicação concreta da fórmula que a física universalizou: é a medida da energia transferida pela aplicação de uma força ao longo de um deslocamento. Dos primórdios da Humanidade até aos nossos dias o conceito sofreu alterações de sentido, preenchendo páginas da história com novos domínios e novos valores. Do Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando a Idade Média e o Renascimento, o trabalho foi considerado como um sinal de opróbrio, de desprezo, de inferioridade. Esta conceção atingia o estatuto jurídico e político dos trabalhadores, escravos e servos. Com a evolução das sociedades, os conceitos alteraram-se. O trabalho-tortura, maldição, deu lugar ao trabalho como fonte de realização pessoal e social, o trabalho como meio de dignificação da pessoa. Ou seja, é importante lançar o olhar sobre o que podemos fazer para que a construção humana seja uma realidade plena, conjugadora de diversidades, de direitos, de deveres.

Todo homem tem direito ao trabalho, à livre escolha do emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Todo homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. Todo homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. Todo homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para a proteção de seus interesses" (Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos)

Partindo da plataforma-génese, percebemos que enquanto há vida, há trabalho, porque viver é uma rede de sinergias, de permanente laboração. É com o trabalho na vida que a pessoa cresce, realiza, sociabiliza.

Portanto, demos esperança à vida, numa altura em que não há trabalho para toda a vida e há muitas vidas sem trabalho!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Liberdade: esperança ou resignação?

 

Comprometidos com a história, porque existimos, porque recolhemos os dados, analisamos, interpretamos, projetamos o futuro com base na investigação, não é aconselhável olhar para um acontecimento de forma acrítica ou evocar uma data por uma única conceção de história.

Esta nota introdutória, surge a propósito do 25 de Abril e das contradições “reinantes”, convém reservar, entre comas, a expressão reinante dado que vivemos num regime republicano.

O grande herói da revolução de abril foi o Povo Português. É sempre assim nas revoluções. A razão é muito linear, simples portanto. É o Povo, a massa anónima de pessoas (não acreditamos na força do indivíduo mas sim no poder das pessoas!), de famílias, de centros de cultura, de dinâmicas religiosas, cívicas, etnográficas; de impulsionadores de valores que servem a totalidade (mesmo quando passam, posteriormente, a ser “apenas” maioria) …. de todos os círculos da ação humana! Se o Todo não percecionar que há mais vida para além da acomodação exploratória ou persecutória do poder ou regime vigentes; e se, colocado em movimento a espiral de mudança, desses mesmos poder e regime, não houver uma convergência de vontades, nunca uma revolução o será. Passará à história como uma intentona, um atentado que foi aniquilado à nascença, por mais estragos que provoque. E as pessoas lamentarão o sucedido mas socialmente continuarão a censurar “quem não tem mais nada que fazer” – os autores dessa intentona ou atentado!

Após o momento do qual já não há retorno, que pode muito bem ser uma súmula de pormenores fraturantes com o passado vigente, expresso por símbolos ou representado por pessoas, então abre-se uma nova aurora de esperança.

Mais uma vez o Povo, em todas as suas representações, é determinante: valida ou condena. Esta é a linha ténue que separa o sucesso do fracasso, por mais preparada que esteja toda a trama. A adesão de um Povo é mobilizada pela alma e caráter de quem lidera o momento! E o sucesso provém de se perspetivar uma vida melhor. Isto é, em cada um pode aspirar de forma sustentada a passar de massa anónima a protagonista da sua própria existência. Isto tem um efeito catalisador, mobilizador de vontades, de triunfo da revolução.

Mesmo assim, pousado o pó do reboliço sobre a calçada ou caminho de cada dia, se não houver sinais de abertura à pessoa nas suas integridade e integralidade, todos podem achar que valeu a pena mas, na alma de um Povo, apenas resta a resignação sob o engano de quem constata que uma ditadura sucedeu a outra. Fracassa a revolução. Então, silenciosa mas constante, vai elevando-se a esperança que uma nova vaga emerja para derrubar os donos da mudança, afinal iguais a todos os outros… até na sede de poder!

É por tudo isto que já não há paciência, em nome da revolução, para quem quer alvorar-se em “dono do 25 de Abril”.

Para o perigos iminentes, deixem que os protagonistas da revolução acreditem que valeu a pena e ganhe alma o Povo português! Conquistou-se a liberdade, durante mais de meio século, sim mais de meio século, e agora faz-se perder a esperança.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Fenómenos naturais

 

Haverá qualquer coisa de normal nesta forma – seria exagero apelidar de modelo – com que os ricos manifestam estar saturados dos pobres!?

A ausência de solidariedade gerará recrudescimento da esperança?!

Sem querer demorar muito na abordagem ao desenvolvimento histórico assente no desenvolvimento das forças produtivas, protagonizado por Marx, não deixa de merecer especial cuidado analisar que o mundo acaba por ser mais justo quando os modos de produção são a junção das relações de produção com as forças produtivas. As forças produtivas constituem instrumentos de produção, dos objetos e da força de trabalho dos homens e das mulheres. O direito ao trabalho, ao salário justo, a cuidados sociais assegurados pelo contributo equitativo de todos são garantia nas relações de produção e as relações que os homens mantêm entre si no processo produtivo, as quais se manifestam no tipo de relações que se estabelecem entre os agentes económicos e os meios de produção.

Assim, de forma acusatória e sonegada não há relação que resista.

Esta história já foi estudada! Está publicada.

Por curiosidade, recordamos uma sitcom (abreviatura da expressão inglesa situation comedy - "comédia de situação", tradução livre) exibida nas noites de domingo pela Rede Globo, que passou entre nós através da estação SIC, “Sai de Baixo”, em que um dos personagens, Caco Antibes, representado por Miguel Falabella, tornou célebre a expressão “odeio pobre”! Até parece que a representação ganhou vida, tornou-se ela própria um sistema.

O mundo está à espera que os pobres fiquem, novamente, saturados de quem os explora!

A injustiça é a força mobilizadora das revoluções.

Com tanta apatia e avareza, parece um fenómeno natural.