Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O anti-Natal…com um bocadinho de boa vontade


in Correio do Vouga (dezembro, 2018)

 

M. Oliveira de Sousa
Em apenas três badaladas, recordar muitas outras noites e diferentes dimensões da mesma noite.
A interpelação aos que escutam a voz da esperança nas trevas dos pastores não justifica o silêncio dos bons. Porque o silêncio da bondade não pode calar o silêncio dos bons.

À meia noite ou noutra hora qualquer… a voz dos sem voz.

Não podemos “adorar” o Menino Jesus enquanto milhares de crianças são espancadas, torturadas e violentadas, a não ser que lutemos contra esta violência que “degola” inocentes.
Não podemos entender o Santo Natal no meio a um mundo globalizado, que coloca o ser humano sob o lucro insaciável, que deixa milhões de trabalhadores sem emprego, que está a destruir a “casa comum”, a não ser que no indignemos na ação, em atitudes contrárias construindo a “Civilização do amor”, da fraternidade, da liberdade, da paz.
Não podemos aceitar de boa vontade a cultura do “TER” e não do “SER”, aceitando a valorização do discurso divisionista e do ódio; a promoção da ditadura da “moda”; ficar seduzido pela mentira, anti-evangelho, anti-Natal.

À meia noite ou noutra hora qualquer… a prosa dos poetas.
Devemos ouvir o espírito dos poetas, quando manifestam irritação com tudo o que contribui como que um desfile da grande farsa. “Uma Antologia Lírica do Natal”,  enquanto “peste e fome e guerra” são dores que passam sempre ao lado do “coração que não existe”;  uma “saudade de alma”, um desprezo pela “brandura” geral desta época de consumos sem mais.
Tudo tão igual (lembrando Torga)
Todos os anos, nesta data exacta,
Momentos antes
De fechar o cartório
De poeta
-Um registo civil ultra-real-,
O mago desse arquivo de presságios
Regista de antemão o mesmo nome
No seu livro de assentos:
-Jesus... – repete com melancolia.

À meia noite ou noutra hora qualquer… as narrativas da história.
Ouvimos a história da cultura portuguesa contada de forma negativa, pelos adversários, por quem a atacou e discordou, disponível no “Dicionário dos Antis: A Cultura Portuguesa em Negativo”, em dois volumes, coordenados pelo Prof Eduardo Franco. Uma pesquisa, reflexão e redação, ao longo de mais de uma década, feito por centenas de investigadores nacionais e internacionais, em que são desconstruídas, para melhorar a compreensão, de como fomos habituados, na escola, a aprender fundamentalmente aquilo a que podemos chamar a cultura positiva, a visão afirmativa da História. Aqui há uma visão diametralmente oposta: uma viagem pelas correntes, as etnias, as religiões as instituições, as figuras a partir do olhar do adversário, de quem discordou, de quem atacou, de quem pensou o contrário. Uma análise crítica das correntes e dos discursos centrados na História de Portugal - desde os primórdios da cultura e da civilização até aos dias de hoje -, com base na perceção negativa dos outros, como por exemplo, o judeu, o padre, o inglês, o muçulmano, o comunista, o maçon ou o castelhano. A história da cultura numa espécie de imagem em negativo que vai permitir compreender em que medida é que esses discursos criaram estereótipos e demonizaram diferenças.

Natal com um bocadinho de boa vontade.
Sim, é verdade, não podemos estar mais de acordo: sem Natal, o Natal não tem interesse nenhum!

domingo, 11 de novembro de 2018

A qualidade não se diz, demonstra-se


in Diário de Aveiro (novembro, 2018)

 M. Oliveira de Sousa*

M. Oliveira de Sousa
A qualidade da governação local passa por “medir não só a qualidade dos serviços, mas também as melhorias na qualidade de vida dos cidadãos e nos processos de governação” (Bovaird e Löffler, 2003: 331).
O assentimento desta afirmação é mais que oportuna e bem ao encontro do momento que atravessamos uma urgência da melhoria da qualidade. O papel da governação local na gestão da sociedade está a ser um tema pertinente. Uma sociedade mais diversificada, a internet e as novas expectativas dos cidadãos estão a desafiar as formas tradicionais de administrar o bem público, de onde se destaca a gestão eficiente e serviço de boa qualidade no setor público e o processo de governança que precisa ser alterado fundamentalmente para manter a legitimidade e aproveitar ao máximo os  recursos e as oportunidades sem comprometer o futuro.
O recente estudo “A qualidade da governação local em Portugal, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, aponta que a “boa governação”, no poder local, parece verificar-se em contextos políticos nos quais:
existe um equilíbrio entre governabilidade e representatividade; o poder é exercido de acordo com regras e procedimentos estipulados pela lei e conhecidos por todos, e ainda mediante um sistema efetivo de freios e contrapesos; as assimetrias de informação entre o executivo e a oposição, por um lado, e entre o poder político e os cidadãos, por outro, se encontram esbatidas por práticas de partilha de informação e de empoderamento; os cidadãos são convidados a participar na gestão pública do seu município; as decisões executivas são avaliadas e sancionadas por órgãos de fiscalização e nas urnas através do voto.
Em contraste, a ”má governação” aparece usualmente associada à instabilidade política; à falta de pluralismo político; a níveis baixos de participação; à falta de transparência e a uma prestação de contas mais formal do que substantiva; à má gestão e a favorecimentos nos processos de decisão; à ausência de critérios de qualidade na gestão e na prestação de serviços públicos; e, de um modo geral, a níveis baixos de desempenho institucional e socioeconómico.
Estas ilações fortalecem a opinião sobre o desempenho daqueles que, como eu, temos como um das principais competências dar voz a quem não a tem, ser voz dos que nos elegeram como representantes, exigir atenção constante sobre a equidade e justiça nas decisões e procedimentos, expressar nos órgãos próprios e na esfera pública que a pluralidade não se esgota nos que pensam (voluntaria ou involuntariamente da mesma forma). E, sempre, tendo bem alicerçada a legitimação do poder. Porque o poder em democracia é das pessoas; os eleitos, todos os eleitos, são representantes destes.
Neste estudo, Aveiro aparece com um dos piores desempenhos.
E não vale a pena distorcer o óbvio. Os indicadores são claros. Equilibradas as contas, com sacrifício dos aveirenses, é tempo de melhorar a qualidade de vida das pessoas começando, por exemplo, pelos serviços… mínimos! Uma conferência de imprensa para apresentar a renovação, da imagem de um site, com princípios do século passado – repositório de informação – não é melhoria, é propaganda. Já devíamos estar com aplicações e serviços online uteis: GPS indicador de estacionamentos e equipamentos, pagamentos online, gestão de uso de equipamentos municipais, balcão virtual, desmaterialização de processos, … uma cidade e município verdadeiramente digital, inteligente.). 

* Presidente do PS-Aveiro
Vereador na Câmara Municipal de Aveiro

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Congresso Internacional: REPENSAR PORTUGAL, A EUROPA E A GLOBALIZAÇÃO



PODER, PARTICIPAÇÃO E CORRESPONSABILIDADE “4.0”




CongressoOs poderes clássicos de conceção iluminista do Estado evoluíram em e para o imediatismo na mutação da cor e opinião/orientação política do “executivo”, que corresponde invariavelmente a alterações profundas nas políticas públicas, geram o padrão de excesso de “reformismo” traduzido em fraca estabilização das opções, pouca cooperação entre atores na fase de implementação, escassa monitorização de impactos e grave desperdício nos investimentos de médio e longo prazo. O resultado são políticas erráticas, pouco negociadas, com horizontes de curto-prazo e que não exploram as complementaridades entre diferentes domínios setoriais –  independentemente da sua marca ideológica.

A mudança estrutural na esfera pública incrementa a participação. A raiz histórica do espaço público liberal, e as questões inerentes, conduziu à recente (re)conceptualização da esfera pública política que se encontra intrinsecamente ligada à proposta em que a legitimidade dos processos políticos de tomada de decisão (formação da vontade) depende de uma esfera pública política influente (formação da opinião). E esta, numa nova era social, em rede (indústria 4.0), obriga à revisão da legitimação dos próprios poderes constitucionalmente providos.

A política como conjunto de ideias, de ações e de instituições é constante criação, constante relativização de teorias, de estruturas e de grupos que devem ter o centro da sua motivação em gerir e orientar a Res Publicae para o bem comum (em risco?!).


domingo, 4 de novembro de 2018

A missão social e inter-geracional da Escola



M. Oliveira de Sousa
A ideia de escola há muito tempo (felizmente!) que deixou de ser um espaço espartano para habilitar as crianças e os jovens para a disciplina que a vida adulta exige, ou seja, a escola chegou a ser considerado como o trabalho das crianças e jovens que quanto mais aborrecido melhor porque ficariam preparadas para alguma literacia e, sobretudo, interpretar e cumprir ordens. Também evoluiu o currículo. Já não é aceitável a instrução para corresponder à indústria, agricultura ou mercado de trabalho dos contextos onde está inserida.
A escola do século XXI é partilha de experiências de vida, é diálogo de culturas, abertura ao conhecimento, às artes, ao mundo. É laboratório de ideias, de projetos, de desenvolvimento socio-económico. É trabalho colaborativo de matiz plural. É o início de um novo compromisso social.
O Estado Social ou Estado-Providência representa uma conquista histórica e um pilar indispensável da democracia e do desenvolvimento. A sua forma não é estática nem imune à crítica, antes carece de profunda reorganização, à luz dos novos desafios colocados pelas economias e sociedades do nosso tempo. Por isso, as políticas e os serviços públicos são essenciais ao desenvolvimento e à promoção da coesão social, em diferentes áreas, com particular destaque em setores como o da educação.
A educação é o primeiro motor de desenvolvimento humano – dizem todos os relatórios de organismos internacionais, como por exemplo o do PNUD. Por isso, é imprescindível, para haver desenvolvimento, uma rede sólida em serviços básicos para o desenvolvimento de um determinado território – tenha ele a dimensão que tiver (um continente, um país, um município, uma freguesia).
A dimensão social da escola assenta em três pilares essenciais: autonomia, projeto educativo (mensurável), sustentabilidade (humana, financeira,…). E concretiza-se num diálogo inter-geracional (pais, professores, alunos, avós, netos, antigos alunos, parceiros educativos – empresas, fornecedores, comerciantes locais) com toda a comunidade educativa (associações, clubes, grupos culturais, sociedades musicais, projetos de património local).
Uma escola com autonomia (no âmbito do regime jurídico de gestão e administração das escolas) nunca perde alunos, nunca se esgota, é a maior fonte de revitalização de um território, de uma comunidade: é um organismo (vivo, portanto) durante todos os dias do ano!
A construção de um projeto educativo ao nível municipal, que defina a vertente educativa do projeto estratégico de desenvolvimento local, e o sentido da ação educativa do município e o seu modo de se organizar e de encontrar soluções próprias para a especificidade da sua realidade, é essencial quando um município reconhece a importância da educação no desenvolvimento do seu território.
Este referencial de gestão estratégica da educação ao nível local tem que envolver a visão de todos os intervenientes no sistema educativo: designadamente as autarquias locais e as escolas, articulados com todo um conjunto de parceiros: famílias, tecido empresarial, associações sociais, culturais e desportivas, cidadãos - com todas as oportunidades de educação não formal e informal, que são proporcionadas por todos os espaços do território e da vida das pessoas e das comunidades.
Quem quiser matar uma comunidade, comece por fechar (de supetão ou à mingua) a sua escola.
(in Diário de Aveiro, 2018.11.04)