Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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terça-feira, 27 de março de 2012

Pão e dignidade

 

Por estes dias, as comunidades cristãs (mais as Católicas de matriz Romana) caminham para a celebração dos últimos dias de Jesus Cristo em Jerusalém em que, segundo a Tradição e testemunho dos Apóstolos e discípulos, foi morto no Calvário!

Toda a caminhada preparatória do momento culminante da vida terrena de Jesus incarna na herança veterotestamentária dando-lhe uma nova interpretação, vida nova. E cada cristão é convidado, por si ou pelos seus pais, a assumir o mesmo compromisso. Porém, se há momentos da história, a começar pelos fontais e interações conflituosas do mundo, onde esta realidade nunca foi diferente, entre nós já estivemos muito próximo da terra onde jorra leite e mel, convocando para aqui a citação do Livro dos Números, do Antigo Testamento, capítulo 14 (Nm 14,8).

Por estes dias, um pouco por todo o mundo, a começar por este nosso “recanto”,Portugal, a Quaresma e o Calvário ganham novo sentido, são reafirmados. E não precisam de ser recreações simbólicas ou analogias fáceis; a vida de muitas pessoas é levada a percorrer caminhos de sacrífico, de falta de tudo.

Na ausência e fartura extremas, o ser humano tem tendência a posicionar-se no mesmo padrão, o que poderíamos convencionar por modelo dos antípodas, que consiste essencialmente em reagir da mesma forma, anti-social, perante adversidades diametralmente opostas. Sem trabalho, sem pão, sem esperança (ânimo, verticalidade) ou com muito trabalho, com abundância de pão, excesso de confiança, surgem comportamentos de disfunção social, perda de dignidade e segurança. Ou seja, a gula é tão grave como a penúria!?

Sem cair nos exageros de correntes antagónicas, entre o estoicismo, pragmatismo e a estética da vida, salve-se a pessoa!

Neste Calvário que se aproxima celebrar, é urgente coligir esforços entre todos os homens e mulheres de boa vontade para que não falte o pão e a dignidade.

( in “Correio do Vouga”, 2012.03.28)

terça-feira, 20 de março de 2012

Em nome do pai

 

Fazer algo em nome de alguém! Quanto honra, independentemente do grau a que nos situemos perante a figura paterna, aqui muito mais do que só isso. Afinal, este é gesto de solidariedade, de vivência dos valores mais universais. E este entrelaçado da vida, valor e eticidade, é tão intrínseco a ser-se que ninguém chega a ser alguém por si só!

É muito interessante, correndo o risco de não ser percecionado o que interessa num artigo como este, fazer uma pequena visita ao filósofo alemão do idealismo. Hegel fez uma distinção entre moralidade, que é a vontade subjetiva, individual ou pessoal, do bem, e a eticidade, que é a realização do bem em realidades históricas ou institucionais, que são a família, a sociedade civil e o Estado. "A eticidade", diz Hegel, "é o conceito de liberdade, que se tornou mundo existente e natureza da autoconsciência".

O pai será, por si, garante da ética da vida, para além de toda a obra que gera!

Os pais da nação, da pátria, das instituições, dos partidos, das normas, das constituições, das obras de arte, literatura, pintura,… pululam nos vários discursos e imaginários! Ter um progenitor, real ou em sentido figurado, atravessa a cronologia do tempo e do espaço, da beleza e da plasticidade das formas de existência.

E ninguém é sozinho. Quando faltam filhos é inequívoco de que faltam pais! Porque o pai será sempre um por cada filho, por muitos que possa ter oportunidade de ser.

Em meados de março, quando ocorre a evocação do Dia do Pai, em Portugal, poder-se-á hiperbolizar tudo para comercializar a ideia, os sentimentos, o sentido da paternidade e da filiação. Porém, as circunstâncias atuais concorrem para a experiência de que há dias que, apesar de serem universais, continuarão simples, dedicados, próximos,… como um pai. Este é um desses dias singulares.

Faltam-nos mais pais!

(in Correio do Vouga, 2012.03.21)

terça-feira, 6 de março de 2012

Os aviões

 

Volta e meia discute-se a funcionalidade da pista da Base Aérea de São Jacinto e a sua potencial mais-valia para o serviço civil. É um assunto com alguma relevância num plano estratégico para Aveiro, no eixo mobilidade e transportes.

Sabendo-se que já vão surgindo indicadores positivos sobre a rentabilidade de algumas linhas aéreas, de serviço entre várias cidades do país, torna-se ainda mais interessante o estudo, o debate, a hipótese. Não é de descurar nenhuma oportunidade, sobretudo quando o equipamento já existe, pelo menos em bruto – haverá sempre necessidade de reajustes, de investimento, portanto.

No meio da altercação sobre equipamentos de travessia – Ponte Pedonal sobre o Canal Central de Aveiro, à cabeça de todas as outras – fazer chegar os aviões a São Jacinto, aparentemente, isto é, segundo a informação transmitida por um Vereador em exercício na Câmara de Aveiro, trata-se de acertos de trocos, que é como quem diz, mais corretamente, de juntar as partes interessadas, assinar as responsabilidades, dar luz verde aos civis para entrarem parcialmente numa área militar.

E aqui surgem algumas questões, entre outras de maior ou menor grau de importância. Este objeto de discussão, as áreas militares, terão algum cabimento nos dias de hoje, num exército como o nosso, cada vez mais dependente da ajuda externa em caso de crise militar? Teremos nós segredos estratégicos militares que não se possa abrir uma gare, um recanto digno, elegante, barato, sem grandes contornos de novo-riquismo, que rentabilize as estruturas existentes? É que este património de mão morta, pertença do Ministério da Defesa no seu conjunto, grassa um pouco por todo o país e está a degradar-se.

Outra questão, interessantíssima porventura, será como fazer chegar os passageiros do hipotético aeródromo de São Jacinto para os seus locais de interesse? - presumindo que estes locais estarão mais do lado da cidade de Aveiro do que do lado de São Jacinto, Torreira, Furadouro… e vice-versa.

Às vezes (ironia!) valerá a pena pensar numa escala mais ampla para resolver pequenos pormenores que se entrecruzam com outros pormenores e, sucessivamente, concretizam um plano estratégico. Caso contrário, num país como o nosso, andaremos sempre em teses minimalistas que esgotam recursos e satisfazem pequenos egos e lobbies (que não existem, claro!?).

Até lá, vamos vendo os aviões… a passar sobre a nossa cabeça, mas lá para os “vinte mil pés”, não venham a afetar as ideias que andam por aí!

(in Correio do Vouga, 2012.03.06)

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Na saúde e na doença

 

Nos últimos vinte anos, acima das nossas capacidades ou não, progredimos imenso como país e como pessoas.

Hoje coloca-se justamente em causa o que se fez de errado nas opções estratégicas relativas à fixação de emprego, pessoas e vias de comunicação. Foi erro gravíssimo não investir mais no Comboio em detrimento do betão e asfalto. Lamenta-se a perda de oportunidades na mobilização para o interior e para unidades que produzam riqueza efetiva para o país, com os recursos que temos.

No últimos quinze anos, uns governos claramente mais do que outros, investiram na produção cultural e equipamentos que potenciassem as indústrias culturais e criativas – o ouro dos que o não têm! – como recentemente aqui abordámos.

Neste período corrigiram-se trajetórias e trajetos conhecidos como estradas da morte, modernizaram-se equipamentos fulcrais, lançaram-se projetos-âncora no conhecimento e ciência.

Nos últimos dez anos, com custos imediatos muito profundos, não só pelo custo da tecnologia mas também, e sobretudo, pela especulação dos lobbies do fóssil e do nuclear, houve grande investimento nas energias limpas e renováveis. Quanto não valeria investir mais nesse potencial limpo para cada português, que circula sozinho no seu “diesel” a caminho do emprego, se tivesse um veículo de dois lugares, pequeno, económico, de fácil arrumação, barato, que “abasteceria” (carregava a pilha) em casa graças ao painel fotovoltaico que teria no telhado?!

Lançou-se uma operação sem antecedentes na reforma sem precedentes das novas tecnologias. O país ficou no topo do mundo, pelas melhores razões.

Nos últimos cinco anos, ganhámos cem anos na educação!

Na verdade, mais uma vez, com avanços e recuos, com falhas e despesismo a qualificação de adultos e a introdução de necessidade de trabalhar mais e de forma mais séria foi notória. Mais e melhores equipamentos, plano tecnológico, parque informático,… quantas coisas!?

A saúde começou um amplo caminho de reestruturação para que mais tivessem o mínimo e que todos estivessem melhor.

Por fim, como começámos, uma crise global enraizada em especulação sem escrúpulos arrastou o mundo para o abismo; Portugal também.

Lançou-se o libelo da desconfiança sobre o Governo, veio a Troika, chegou a austeridade. Deste compasso ternário (mudança de Governo, Troika e austeridade) apenas ressalta uma constante: quem paga são os que menos podem. Ou seja, o que era investimento para desenvolver o país nada resta! Mas custa alguma coisa governar assim?

Saúde, educação, transportes, ação social são os grandes sorvedouros dos dinheiros públicos?! Mas onde está a novidade? É para que estes serviços existiam que as pessoas descontam, ou não é? Nas outras coisas paga-se em impostos (casa, carro, redes de água, saneamento, telefone, eletricidade, portagens, transação de bens, rendimentos,….).

Defendendo que temos de pagar a quem emprestou, não estando explicado que fosse o bom investimento que trazia mal ao país mas o despesismo dos interesses instalados, que podem deslocalizar quando quiserem, valerá a pena apontar caminhos que deem vida aos que fazem com o que Portugal exista. A solução não passará por ficarmos sem acesso ao essencial, à vanguarda de produtos para o país que é preciso continuar a desenvolver.