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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Big Brother

 
Em 2008, Stephan Coleman escreveu um artigo ( “How democracies have disengaged from young people” – como as democracias se têm desligado dos jovens) com base num estudo de caráter sociológico.
O autor defende que, ao contrário do que é comummente assumido pelos críticos, não serão os jovens a não se interessarem e a envolverem na política mas a própria política que se apresenta como uma realidade à parte do seu mundo, da sua experiência, com linguagem diferente e em exclusividade demográfica, grupos privilegiados, herméticos, predefinidos.
As prerrogativas para o estudo realizado advieram dos resultados apresentados pela Comissão Eleitoral inglesa, sobre o funcionamento do país, que indicava a disponibilidade da participação dos jovens em questões relacionadas com a vida do país, ficando, no entanto, esta vontade, na maior parte das vezes, pelo campo das intenções, uma vez que o sentimento comum é o de que existe um divórcio entre os políticos e o público jovem em geral, o que comprova os resultados do referido estudo quando refere que 90% dos jovens afirmam não terem envolvimento na política.
Ao focar-se na interação que os jovens mantêm com o programa Big Brother, Stephan Coleman, entre outros autores da mesma área cientifica, apuraram que os votantes nas eleições gerais de 2005, assim como os espetadores do referido programa, eram predominantemente jovens e do sexo feminino. Este sucesso interativo produzido nos jovens, pelo Big Brother, levanta perguntas sobre a possibilidade da política alargar o seu âmbito incorporando assuntos associados à cultura “popular” – diríamos, na moda. Este entusiasmo participativo dos jovens na interação com o programa, algo que a maioria dos políticos gostaria de provocar nos eleitores, não deveria ser mal visto, mas antes rentabilizado para uma possível convergência de estilos populares e políticas de comunicação que revigorassem a forma da participação dos jovens na política e vice-versa – é criticável, logo se vê!
As diferenças nas abordagens dos políticos, que procuram mandatos populares, e dos participantes no programa, em captar audiência e votos, são importantes, não por demonstrarem a sua natureza distinta e incomparável, mas pela forma como é estimulada a participação e o alcance obtido.
Este estudo incidiu numa amostra de 200 pessoas com mais de 18 anos, que reuniam características como serem telespetadores do Big Brother e cidadãos ativos. A realidade social tornou-se cada vez mais uma questão de experiência mediada, podendo-se argumentar que os públicos e as audiências são as mesmas pessoas que passam pelo mesmo processo de tentar dar sentido a um mundo que só pode ser apreendido de forma indireta.
A vida privada passa a ter uma influência na determinação do bem público, e é aí, na esfera pública, que os públicos convergem para se tornarem cidadãos ativos, indiferentes e livres para desligar, mudar de canal, interagir com outros conteúdos que mais lhes interessem ou que funcionem, que provoquem efeito sobre si mesmos.
Nos quinze anos da primeira edição do programa em Portugal, depois do “show” na Rua Abade Faria, em plena pre-campanha para as eleições legislativas, diríamos… finalmente, estamos no bom caminho. Ou como o rapaz da pizza pode mudar o mundo!
(Correio do Vouga, 2015.09.09)








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