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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Só, na precariedade

 

O seminário “Migrações. Que Perspetivas?, organizado em parceria com a associação portuguesa Mulher Migrante, enquadrado num ciclo de colóquios sobre a temática "O 25 de abril e a liberdade de emigrar", iniciada em abril no Palácio das Necessidades, em Lisboa, e que já passou pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, pela Universidade Aberta, em Lisboa, chegou esta semana a Paris devendo continuar até outubro em instituições portuguesas e estrangeiras.

Na Universidade Sorbonne, sobre a nova diáspora portuguesa, Isabelle de Oliveira, diretora da Faculdade de Línguas Estrangeiras Aplicadas da Sorbonne, apontou "uma nova diáspora no limiar da precariedade, em condições péssimas", em que praticamente todas as semanas recebe doutorandos ou doutorados que vêm bater à porta do seu gabinete para pedir ajuda. Este é o novo rosto da emigração portuguesa. Na emigração dos anos 60 e 70 ainda havia um espírito de solidariedade. Neste momento, essa solidariedade acaba um bocadinho por se atenuar".

O colóquio aconteceu uma semana depois de o Instituto Nacional de Estatística ter revelado que Portugal perdeu quase 60 mil habitantes em 2013 por causa do aumento do número de portugueses a emigrar e da redução de nascimentos.

Este isolamento, provocado por diversas causas mas que se acentua com a diminuição de valores fundamentais da convivência entre os humanos, como a solidariedade, remete-nos, inspira-nos um certo revivalismo, a revisitação da única obra publicada em vida por António Nobre (Só, Paris 1892), as influências e o modernismo português de há um século. E, consequentemente, mergulha-nos no paralelismo asfixiante.

O modernismo em Portugal desenvolveu-se aproximadamente desde o início do século XX até ao final do Estado Novo, já por 70.

O Modernismo Português ocorreu num momento em que o panorama mundial estava muito conturbado, de maneira particular entre a Revolução Russa de 1917 e a Primeira Guerra Mundial de 1914-18. Em Portugal dá-se a implantação e lenta implementação da República.

Este período foi difícil, porque, com a guerra, estavam em jogo as colónias africanas que eram cobiçadas pelas grandes potências desde o final do século XIX. O marco inicial do Modernismo em Portugal foi a publicação da revista Orpheu, em 1915, influenciada pelas grandes correntes estéticas europeias, como o Futurismo, o Expressionismo, etc., reunindo Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros, entre outros.

A sociedade portuguesa vivia uma situação de crise aguda e de desagregação de valores. Os modernistas portugueses respondem a esse momento, deixando atrás o acanhado meio cultural português, entregando-se à vertigem das sensações da vida moderna, da velocidade, da técnica, das máquinas. Era preciso esquecer o passado, comprometer-se com a nova realidade e interpretá-la cada um a seu modo. Nas páginas da revista Orpheu, esta geração publicou uma poesia complexa, de difícil acesso, que causou um grande escândalo naquela época. Mas a revista Orpheu teve uma curta duração publicando-se apenas um número mais e não tornaram a haver novas edições da mesma.

São características de estilo deste movimento: o rompimento com o passado, o carácter anárquico, o sentido demolidor e irreverente, o nacionalismo com múltiplas facetas - o nacionalismo crítico, que retoma o nacionalismo em uma postura crítica, irónica e questiona a situação social e cultural do país, e o nacionalismo ufanista (conservador), ligado principalmente às posturas da extrema-direita.

O tempo de precariedade exige esperança solidária que não deixe cair cada um e cada uma num calvário de solidão.

“Moços do meu paiz! vereis então
O que é esta vida, o que é que vos espera...
Toda uma Sexta-feira de Paixão!” (António Nobre)

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