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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

As raízes éticas da democracia

 

Num tempo de apurado debate sobre o futuro, fazemos uma pequena incursão sobre o pensamento… do futuro.

A primeira referência remete para a necessidade de ver o presente. Parece claro que só existirá futuro se houver presente. Uma afirmação simples mas que se teia a complexidades diversas. Apontamos três, a geracional, a circunstancial e a regimental.

As gerações futuras, neste ano europeu do diálogo entre gerações, não se esgotam na juventude. Os jovens são uma constante. Podemos deixar de ter ou não jovens, como se verifica haver cada vez menos. Porém, os jovens são sempre presente. Assim, como as crianças. As gerações mais novas por existirem sempre, dão garante de futuro de todos. Estará, por essa via natural, assegurada a continuidade.

Esta é a primeira complexidade, há um ciclo de lapidação das gerações mais novas. E isto fundamentada (ou não) numa ética sem alma – com ou sem aspas. Quer-se uma ética absoluta, princípio e fim de si mesma. Não é fácil um futuro sem presente que respeite a memória para ser respeitado.

A nota circunstancial, aqui retratada com celeridade porque nada sobre esta matéria é circunstancial, remete para a educação e para o valor da educação. Acreditamos que é aqui que reside o maior défice do país.

A inspiração provem de Adela Cortina, na aula de sapiência em 2009, na Universidade de Valência, citando Kant “só pela educação o Homem consegue sê-lo”. E é por esta razão, a de Kant, que se acrescenta a circunstância: quer-se educar para o presente ou para um projeto futuro, uma sociedade cosmopolita, isto é, em que todos os seres humanos se sintam cidadãos, sem exclusões mas todos membros de pleno direito. Definido o objetivo, será mais fácil ultrapassar o atadilho presente.

Será na educação para a cidadania, para a participação, para o outro que se pode administrar a casa comum (a “economia”!).

Por fim, a complexidade regimental. A participação livre de todos tem uma grande limitação que é a sua própria legitimação, ser de todos e com todos. Recorrendo ainda a Cortina, a democracia vê-se como o melhor dos regimes porque é um sistema que permite contrapor, o que pode dificultar os totalitarismos; é um regime de cidadãos, sem senhores e sem escravos, autónomos e não heterónomos. E, a concluir, com a laicidade da sociedade e do estado, o poder é exercido pela racionalidade das leis e legitimidade universal da forma de governo.

Para superar o que nos dificulta a vida, vale a pena recolher ao pensamento. Aí encontrar-se-ão as raízes para o futuro.

(in Correio do Vouga, 2012.02.08)

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