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terça-feira, 1 de março de 2011

O filme, a ficção e cidadania

 

É com particular interesse que, a propósito da cerimónia cinematográfica dos Óscares da Meca do Cinema, e da notícia que nos chega sobre a ideia da Câmara Municipal de Aveiro colocar os cidadãos a censurar, através de autocolantes, os comportamentos, que trazemos este apontamento.

O ser humano é complexo – nada de novo, já o sabemos - tem muito de insólito, de imprevisível, de elaborado. Porque é que tem necessidade de ficcionar? De que lhe vale transportar-se para um patamar da existência que só o é enquanto aparência, realidade ficcionada? Chega a alterar o ambiente, os seus elementos, as personagens, a história de acordo com sua vontade.

Como o sonho (voltamos ao sonho!) pode ser a materialização da vontade de atingir o que não se pode vivenciar de outra forma, devido aos próprios limites e/ou às consequências, a ficção será esse estádio de concretização sem fronteiras para o pensamento. Assim, com a ficção, o ser humano repete conscientemente o que o inconsciente produz em sonhos, cria um mundo para produzir desejos.

As artes de expressão, como a literatura, o teatro, a fotografia, a pintura e, particularmente, o cinema, pela transposição acelerada de fotogramas que causa a ilusão de movimento, o que amplia a sensação de “realismo” da imagem reproduzida, são campos propícios para materializar a ficção.

A história das ideias e do pensamento humano, a Filosofia, a Teoria da Arte, a Teoria da Comunicação fazem o seu percurso investigativo para nos ajudar a desenhar a fronteira entre a ficção e a realidade não ficcionada.

Depois surgem a comercialização dos eventos… e passamos a pagar para ver a ficção dos outros! E eles são estrelas, ricos,… distantes!

E onde é que entra aqui a ideia da Câmara?

Os automobilistas prevaricadores vão ser brindados com autocolantes nos vidros dos seus carros, o “Selo da Censura” nos carros mal estacionados; os carros bem estacionados, em contrapartida, receberão o “Selo de Urbanidade”; haverá, ainda, um terceiro tipo de dístico – o “Selo Chique é Andar a Pé”. É o programa Active Access, que faz parte da aposta do município nas condições que valorizem o peão e na reforma da vivência da cidade.
Na nossa opinião, esta realidade ficcionada trará os seus frutos!

Parece complicada a autorização a terceiros a colagem de autocolantes no carro, quer seja de censura ou urbanidade!? Estas acções não provocarão distúrbios entre cidadãos? Isto tem assim um ar suspeito, de “noite de cristal” ou “facas longas”, não é?

Pensamos que seria interessante investir na educação para a cidadania directa, através de melhoria nas escolas, nas estradas, na urbanidade que representa a celeridade no despacho de processos (para evitar mais deslocações para Aveiro apenas para uns vistos). E aqueles “multadores encartados” dos veículos bem estacionados, o que vão fazer? Também parecia interessante a criação de plataformas intermodais;… veículos eléctricos, para facilitar a mobilidade urbana em alternativo ao automóvel pessoal; as BUGAs; E os táxis na Ria?... também ajudavam, não?

Mas ao preço que estão os combustíveis, o custo do estacionamento, o estado das estradas,… chique, chique era os passeios estarem arranjados para se poder andar a pé!

São assim os filmes das realidades ficcionadas!

(Pl, in CV, 2011.03.01)

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