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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Geração (B)arca bela. O poema e a fábula!

 

Nos poemas “Folhas Caídas”, Almeida Garrett interpela com originalidade o pescador:

Pescador da barca bela, inda é tempo, foge dela, foge dela Oh pescador!

Esta interpelação, aviso, conselho, grito - tudo o que possamos sentir! – tem actualidade e inspira o que se vai passando por aqui….

Quem será o pescador?!

Usando as palavras, colhemos mais à frente outras semânticas. E se é barca ou arca pouco nos interessa para este apontamento. Atendendo às causas – a falta de esperança! - que levaram a uma coisa ou outra, segundo o hagiógrafo, Noé, na iminência da tragédia, vislumbrou, no plano divino, a hipótese de salvar a humanidade que, perdida de sentido, deixou-se iludir pelo perecível, pelas fraquezas! Pelo relato proto-histórico que o texto bíblico apresenta, Noé conduziu as espécies ao "descanso, alívio, conforto" (o étimo do próprio)!

Dá-nos descanso saber que há barca… e que é bela! E esta barca pode ser a Arca?!

E por ser bela, ainda é preciso fazer mais por ela! Com tanta diversidade e tanta turbulência, como é possível que não pereça?

No meio de muita parra, de toda a diversidade de flora, vão juntos o felino, ágil e veloz, e a serpente, astuta e perspicaz!

A cigarra dos contos com a formiga – que também por ali passa laboriosa!

A raposa e o lobo… à espreita do seu momento!

Alguns erguem-se esbeltos, como a girafa e outros altivos, e por lá ficam, nessa elevação narcísica, nunca mais voltam a terra!

E também seguem cordeiros, mansos e dóceis, e burros (muitos burros!) entretidos nas suas rotinas e pasmaceira derreada pelos anos de cabeça baixa!

Depois, há por lá uns tantos que parecem não ser dali. Mas estão aqui e ali sempre em lugares de relevo. Um bocado usurpadores do sistema, vão à proa acreditando que podem chegar primeiro. E, por ali andarem há tanto tempo, ainda não deram conta que a barca está a andar para trás!

Há por ali muitos animais exóticos, imensos papagaios! Tanta tagarelice, repetida e sem sentido, de quem nunca se vê fazer nada a não ser lançar para o ar uns quantos monossílabos e impropérios!? A ave de rapina, que espera onde poder cobrar.

Pelo primeiro piso, mais subterrâneo e escuro, movem-se animais de grande porte! Nunca ninguém os vê mas pressentem-se, quer pelo ruído quer pela pendulação da barca! Tudo oscila aos seus movimentos. E quando não são eles a fazer estremecer toda a estrutura, são as vagas exteriores!

E há muito mais que não pode ser contado em tão poucas linhas…

Em qualquer fábula digna, o leitor encontra a síntese, a moral da história. Se não encontrar por aqui, nestas linhas, qualquer coisa de parecido, a culpa não é sua. Isto pode não ser verdadeiramente uma fábula!

A barca pode ser apenas mais um país que se levanta contra o jugo das gerações que” comem tudo”! Eles comem tudo (eles comem tudo – ou já comeram) e não deixam nada para esta geração culta, que não é nada parva!

(Pl, in CV, 2011.02.15)

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