Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

Páginas

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PL, in "Correio do Vouga" - 2010.09.22

Homenagem a todas as avenidas sem árvores

É muito difícil ver partir para sempre um amigo ou uma amiga de longo data. Por ser tão próximo, era quase familiar. Ainda éramos pequenos e já ali estava. Os anos passaram em nós, mas ele (ou ela) sempre pareceu imutável à… mudança!

E quando algo lhe acontece ou decidiram que tinha de acontecer, como tudo ficou diferente!? Até cada um de nós, por se sentir tão diferente e lutar contra todas as diferenças, acabou por cultivar a indiferença. Veio o desgosto, o sentimento de impotência por nada poder fazer para alterar o rumo do destino traçado!

Acontece isto com as pessoas. Sente-se o mesmo por um velho automóvel, por um animal de estimação, por uma estrada que rasga um bosque de árvores frondosas, por um ribeiro cimentado, por um braço de mar assoreado, por uma língua de areia saqueada,… por tudo, no fundo, que os sentidos fizeram parte de nós! Às vezes, até uma velha parede, mesmo em frente à janela que se abre para umas “águas furtadas” ou para uma viela sem luz, depois de derrubada, faz perigar qualquer coisa: porque transforma a penumbra habitual em luz excessiva que debota; porque expõe o que até aí era privacidade e recato.

Há sempre um desgosto na mudança!

Mas o que alimenta suculentamente a orfandade, quando algo se transforma na nossa melancólica monotonia, seja ela mais melancólica ou não, é a subtracção do certo e a multiplicação do incerto!

É terrível não se saber o que vem depois! É por isso, presumimos, que é mais cómodo, mais confortável, ficar no que está, no que existe.

Todos somos conservadores, portanto. Sim, todos. Até quem defende a vertigem da mudança sem mais, sem limites, torna-se conservador dessa mesma postura ou ideia!

Porém, é importante aceitar, que há sempre algumas razões para que as coisas se façam. Porventura!? Acreditamos que sim, que não se deve confundir a árvore com a floresta, nem a avenida pela cidade. Mas nem tudo pode aparecer, e parecer que surge, por geração espontânea, sem nexos causais. É provável que andemos todos na ilusão e, como tal, só alguns iluminados poderão fazer, por magnanimidade, que vejamos luz entre as árvores que morrem (de pé ou arrancadas à raiz).

Um dia chegará o momento em que todos viveremos num mundo perfeito!

Sem comentários: