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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

PL, in "Correio do Vouga" - Especial Natal.DEZ09

Carta ao Rei Herodes!


Meu caro,

Espero que jaza em paz! Compreendo, porém, que não lhe seja fácil.

Não o trato com vénias nem com salamaleques, até porque são pouco do seu agrado. Demonstrou ser um “soberano” à altura do que reina por aí. Tenho de confessar que nunca gostei muito desta expressão, soberano, cheira a árbitro de futebol; mesmo cometendo os maiores dislates e disparates… “a decisão é soberana!” Porque é que a decisão tem de ser soberana? Será que nunca erra?! Ouviu alguém para dar uma resposta mais adequada que tenha o máximo de consenso?

Por estes dias, escreve-se para muita gente. É uma época um pouco difícil para si, bem o sei. Natal… não é das coisas que mais lhe agradarão, presumo.

Deduzindo que ninguém se lembra do Grande, aqui vão umas linhas de conforto quase laudatória. E digo quase porque, lamento, mas o que fez já muita e boa gente o conseguiu: uns acordos aqui; umas promessas acolá; uns tratados por ali; um favorzito mais além; uma fuga ou outra para um “el dourado” mais proveitoso; uma coisa ou outra em grande (magnífica, porventura, mas de proveniência de fundos pouco esclarecida) … Como vê tantos o conseguem, mesmo nós, aqui na costa mais ocidental da Ibéria.

Alcança-se esta proeminência através dos mesmos métodos:

Origem. Quando não se é, inventa-se. Como a sua origem era Idumeia, o que abonou pouco à legitimidade do seu reinado, teve, face à contestação, de ser generoso na construção do currículo.

Currículo. Para “resolver” isto, casou oportunistamente com Mariana, filha do alto sacerdote do Templo. Mas tal não evitou o permanente sobressalto face à ameaça de uma revolta popular. A que não será estranha o refúgio que mandou construir, a fortaleza de Massada.

Estratégia. Quando Matatias Antígonas entrou na Judeia, fugiu para Roma. Chegado aí, assegurou, junto de António, por aliança estratégica, sabe-se lá a que custo, continuar com a realeza da Judeia. Os Romanos ajudaram-no militarmente nesses objectivos. Mas isso paga-se!

Propaganda. Destronou a dinastia reinante, que governou Israel mais de um século, com o apoio dos saduceus mas não agradou de todo. Perdeu alguns “amigos” mas ganhou outros entre os fariseus. E, porque era um déspota de Roma, os essénios não o tinham em particular apreço.

Demagogia. Diz-se que tinha uma corte culta; que fundou as cidades gregas da Samaria e Cesareia (do Mar). Construiu fortalezas e palácios, Massada, o Templo, o Herodium, o Túmulo dos Patriarcas, em Hebron.

Perpetuidade. Por fim, já no fim da vida, ainda dividiu (em Testamento) para reinar, com a partilha entre os seus filhos, tributários de Roma, o governo da Palestina: Herodes Antipas (Galiléia); Herodes Filipe (Ituréia e Traconites) (Lc 3:1); Arquelau (Judeia) (Mt 2:22) e (o imposto por Roma?!) Lisânias (Abilene) (Lc 3:1).

É curioso, entre nós, ainda não entrou em “vigor” (vigor mesmo, aplicação concreta) a Lei n.º 46/2005, de 29 de Agosto, sobre a limitação de mandatos de presidentes de órgãos executivos, e já há quem a queira alterar!? Não contava com esta, pois não?

Notável!

A terminar, permita uma pequena nota anti-panegírica.

Não conseguiu matar o Menino Jesus! Que grande falha. Deixou-se ir na magia do Natal, com aquela dos Magos que vieram do Oriente…

Fique a saber que, pouco a pouco, sem grande esforço, fina-camada a fina-camada de poeira, como a que os ventos suão transportam, já outros o fizeram. O Menino Jesus morrerá em breve se o José não regressar com ele para o Egipto! Nem imagina como “mata” querer “ser moderno”! Mata-se tudo a troco de nada. - Ah! Se ainda reinasse, caro Herodes. A este preço ainda tomava Roma!

Voltando ao assunto, queira saber que o Natal já não é o que era. Não há magos, não há família, não há presépios, não há lapinha. Hoje, temos a indústria do consumo e do plástico: os magos são americanos, a consoada é com e como fast food, as árvores são de plástico e as estrelas pairam nos centros comerciais.

Como vê, para que serviu a matança dos inocentes?

Espero que se encontre bem onde quer que esteja.

Os melhores cumprimentos, até sempre

M. Oliveira de Sousa

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