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terça-feira, 14 de abril de 2009

PL, in "Correio do Vouga" - 2009.04.15

Como uma Páscoa sem Cristo!

Não é fácil aceitar uma Páscoa sem Ressurreição, sem Cristo. No entanto, na História da Salvação não é a primeira vez que isso acontece. Durante milhares de anos, vivemos (a primeira pessoa do plural aplica-se porque todos somos parte desse itinerário de salvação), portanto, todos vivemos “à condição” muitas Páscoas sem o Ungido. Vivíamos na expectativa da sua vinda. Por fim, para os Cristãos, chegou!

Na verdade, dando como certo, tenhamos a generosidade de aceitar assim, a cronologia (aproximada) da salvação, com base nos fragmentos e textos do Antigo Testamento, a humanidade viveu dois mil anos (desde Abraão) sem a Incarnação (de Jesus) e mais outros dois mil (depois de Cristo)! Contudo, há sinais de que Cristo já não está!

Tanto se acreditou que o secular também é obra do Criador, portanto, à imagem e semelhança, que deixámos a obra da Redenção confiada novamente ao zelo do Criador! Por outras palavras, compreendido e assumido o que era matéria da fé popular, pouco se fez para inculturar os actos de piedade como acção evangelizadora. Não se esgotava, longe disso, nesses actos simples da vida das comunidades, como eram o sino, os sinais (expressão tão bela para significar que alguém faleceu na comunidade), as procissões, a Via Sacra, a participação diversificada do povo nas irmandades, na oração do Rosário, na Visita Pascal, novenas - “saudosismos!” – dir-se-á! “Coisas populares que não dignificavam a Igreja” – terão pensado alguns! Porém, esses sinais simples eram a presença do Sagrado na vida diária dos baptizados, das famílias, das comunidades. Actualizá-los, em nome do eclesialmente correcto, quem sabe, matou uns e comprometeu outros.

E foi assim que até da Páscoa de Cristo quase nada resta.

A Páscoa não tem identidade.

Ora, quando se perde o comprovativo de identificação, perde-se a oportunidade de fazer prova do sentido de pertença, da naturalidade, da residência. Podem-se perder mesmo as raízes culturais. Corre-se esse risco, um risco muito perigoso.

Nestes dias de Páscoa, vivemos muito “dentro”.

Sexta-feira Santa será feriado? E Segunda da Pascoela? Sábado é de festa? Aonde? Tem sentido a Páscoa para quem não comunga nada desse significado? Se não fosse o tempo propício para algum descanso entre o Inverno e o Verão, justificar-se-ia uma interrupção destas? A quem interessa a Páscoa, ao Memorial ou ao lúdico-turistico!

Assim, perdida a identificação…perde-se identidade!

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