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domingo, 9 de novembro de 2008

PL, in "Correio do Vouga" - 2008.11.11

O que é que quererão os professores? – parte I


[Supostamente, como tantas vezes referimos, este apontamento deve ser de cariz desportivo. Correcto! Porém, numa jornada (de Taça) em que a modalidade rainha do desporto nacional não conseguiu ter cem mil adeptos a assistir, mesmo com um jogo entre dois “figurões”, há coisas mais importantes para abordar, incluindo entre os critérios, os números da assistência e protagonistas.]


Muito provavelmente, os professores quererão o mesmo que todos os cidadãos honestos, serem felizes também com o contributo da sua realização profissional, através de um sistema que ser quer educativo do maior investimento para o desenvolvimento da humanidade, na definição do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ou PNUD), o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) que tem por mandato promover o desenvolvimento e eliminar a pobreza no mundo.

No nosso sistema educativo há necessidade de rever todo o processo de organização (a estrutura, o currículo (também designado, no plural latino, curricula), os ciclos) e competências (os protagonistas responsabilidades, os actores, os destinatários). São mais de vinte anos (Lei 46/1986, a Lei de Bases do Sistema Educativo) do mesmo e nas circunstâncias em que foi desenhado!

a) Estrutura – é claro que o sistema educativo português é construído de cima para baixo.

A Lei de Bases reflecte o que se viveu na década seguinte ao “25 de Abril”, inclusive nas matérias ideológicas subjacentes. Tenta responder aos medos experimentados em 40 anos. Aponta para a igualdade de oportunidades sem qualquer tentativa de diferenciação positiva. Ou seja, de 8 a 80! A massificação nivelou todos pelos que mais precisam (nos recursos, nos conteúdos, nas competências). Os edifícios são de concepção macro, impessoal, anónimos, sem conforto, sem entradas e sem saídas. Uma arquitectura desumanizante, sem referências construtivas dos laços afectivos e emocionais. Quando é evidente que ninguém coloca um elefante numa loja de porcelana!

b) O currículo é nacional, de gabinete. É modelado no campo ideológico e na definição política dos que, a partir de Lisboa, ditam o que querem para o futuro do país. Mais, os lobbies acentuaram as mudanças que foi sofrendo contribuindo para a limpeza da memória histórica da matriz cultural de um povo. Os novos desafios, as perspectivas de médio-longo prazo não coabitam ali.

O currículo poderia ser muito bem de definição nacional e inculturação e actualização (sócio-profissional e axiológica) locais.

Para o nível nacional ficava a formação geral e a específica no prosseguimento de estudos (enfim, a organização do ensino superior e o acesso a este, obriga a que haja uma super estrutura nacional). A nível local ficariam afectos os conteúdos curriculares e competências que dinamizassem o tecido económico, empresarial e cultural nas áreas técnicas, tecnológicas e específicas dos cursos tecnológicos, profissionais, educação e formação.

c) Os ciclos (de estudos) não acompanham a maturação natural das crianças e jovens. Os objectivos do ciclo são desastrosos por essa razão, que não será única. Por exemplo, o terceiro ciclo, o das acentuadas mudanças fisiológicas, emocionais, psicológicas, tem três anos, uma eternidades para um ou uma adolescente (analisem-se os resultados do oitavo ano!). A par com isto, tanto se cumpre o terceiro ciclo numa escola de tendência infantil (Escolas Básicas) como de tendências adultas (as Secundárias, cujo ensino não é obrigatório, só como exemplo para focalizar algumas fontes de diferenciação).

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