Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

Páginas

terça-feira, 6 de maio de 2014

Limpinho… como na bola!

 

Tornou-se – limpinho - célebre na boca do treinador do Benfica, Jorge Jesus, quando há sensivelmente um ano, em abril de 2013, os “encarnados” ganharam ao Sporting deixando no ar a perspetiva de poderem conquistar o título nacional de futebol. Jorge Jesus reconheceu que o Sporting "esteve melhor organizado taticamente", mas "o Benfica fez a diferença", no dérbi no Estádio da Luz. O técnico encarnado rejeitou críticas quanto à arbitragem de João Capela, sublinhando que "o Benfica ganhou limpinho".

A este comentário ripostou Vítor Pereira "ainda é possível revalidar o título", desde que o campeonato seja decidido dentro das quatro linhas e não por fatores exteriores. Crítico em relação às arbitragens, o técnico portista sublinhou que "os três penáltis" do Benfica-Sporting "não podem ser branqueados" e contestou a qualificação de triunfo "limpinho, limpinho" dada por Jorge Jesus.

Na verdade, o Benfica acabou por perder tudo nessa época em pouco mais de uma semana, tendo o FC Porto ganhado o campeonato ironizando com um título “limpinho, limpinho”.

Se há coisas que não restam dúvidas a ninguém, no futebol poucas vitórias são limpas – direta ou indiretamente!

O Governo de Portugal, influenciado por esta convicção – só pode ser!? – declara que as finanças do país vão ficar libertas de qualquer espartilho dos credores, sobretudo depois da (suposta) saída do Programa da Troika, um saída limpa! Limpa?!

Pensemos com seriedade, diga-se a verdade!

De acordo com o 'Economic Outlook' da OCDE, divulgado na terça-feira, dia 6 de maio, a dívida pública portuguesa, segundo os critérios de Maastricht, deverá atingir os 130,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014 e voltar a subir em 2015, para os 131,8%.

Esta previsão contraria o otimismo do Governo, que espera que a trajetória em alta da dívida pública comece a inverter-se em 2015: no Documento de Estratégia Orçamental (DEO), divulgado na semana passada, o Executivo previa que, depois de chegar aos 129% do PIB em 2013, a dívida pública atingisse os 130,2% em 2014, recuando para os 128,7% no próximo ano.limpinho

A OCDE estima que o índice harmonizado dos preços ao consumidor (HIPC) recue 0,3% em 2014 e que aumente 0,4% em 2015.

Quanto ao défice orçamental, a OCDE estima que "as metas do défice [orçamental] de 4% e 2,5% acordadas com a 'troika' [Fundo Monetário Orçamental, Comissão Europeia e Banco Central Europeu] para 2014 e 2015, respetivamente, deverão ser alcançadas".

Portugal está no grupo de países que precisa de consolidação orçamental até 2030 para cumprir o objetivo de dívida pública, mas que já antecipou uma parte considerável dessa consolidação.

Isto é limpinho?!

O entusiasmo pela verdade desportiva é de tal ordem que até Medina Carreira - paladino da verdade nas contas públicas, do rigor orçamental, arauto da desgraça – considerou, cúmulo dos cúmulos, ser necessário ter alguém capaz de liderar o País como Pinto da Costa fez com o FC Porto. “O FC Porto devora tudo há cerca de 30 anos porque teve um dirigente capaz de pôr ordem no clube”, referiu, salientando a falta de dirigentes competentes a liderar Portugal, no programa ‘Olhos nos Olhos’, da TVI24, na segunda-feira dia 5 de maio!

Que grande confusão, Sr Primeiro Ministro!? Que diabo de recurso, Dr Medina Carreira?!

Agora é que nunca mais saímos desta situação imunda – no sentido mais profundo do étimo latino (arejado, limpo)!

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Frei Tomás

 

O conhecido aforismo sobre a discrepância humana entre as palavras e os atos, ou a ação, é recorrente em todos os setores da vida. É certo que há diversas causas, interferências involuntárias, que podem suscitar os desencontros entre o ato de pensar, a comunicação expressa e a ação concretizada: a natureza da arte, a pressão mediática, o cansaço de um dia, “lapsus linguae”, ignorância no assunto, vontade ou obrigação de pronuncia sobre matérias não muito aprofundadas, etc.

Frei Tomás – não se sabe qual deles! – fica na história da dialética como incoerente, pelo menos é esse o sentido do adágio, que não será apenas para forçar a orientação da rima, "bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz”, querendo demonstrar a contradição entre os atos e as palavras – coisa fácil e recorrente, porventura, para a maioria dos humanos! Porém, esta repercussão sobre Frei Tomás poderia ser de outra ordem, se essa ordenação fizesse sentido, se expressasse um outro todo; por exemplo, “"bem prega frei Tomás, faz o que ele diz e o que ele faz”! Bastava retirar a negação, o advérbio, e “este” Frei Tomás bem podia colher o epíteto de “o coerente”!

Na vida pública, com maior relevo na política, pelas razões já aludidas, e sem querer escamotear a impreparação de alguns protagonistas, é recorrente a incoerência, a demagogia, a suposta mudança de opinião. Mas, a política, também tem esse pormenor do jogo, de não demonstrar tudo, de provocar a reação da opinião contrária. Contudo, neste caso, quando a retórica é arte, requer-se um alto nível de ciência política, de conhecimento de todos os domínios da arte de trabalhar o espaço publico – muito para além das conveniências do lugar de momento ou dos focos circunstanciais!

A “história” de Frei Tomás tem, como é facilmente admissível, muitos contornos. E, mais do que qualquer observação crítica, é reflexo do ser humano na sociedade, na tribo, a tribo plural que nos une e afasta, que destinge entre iguais e distingue entre diferentes e diversos. Mais do que juízo moral ou ético, são as máscaras que obrigatoriamente são colocadas para que a verdade não mate, a convicção não separe, a determinação não apoquente! E a máscara (do rosto, das palavras, das ações) tem sentido biunívoco, inverso e paralelo, conforme as certezas e as circunstâncias: a criança diz à mãe que fez uma asneira grave, para a sua idade, como? Um governante, perante a tragédia, transmite ao país a notícia, como? O médico, ao lado do leito do paciente com doença terminal, comunica o diagnóstico, como?

Mesmo consideração, portanto, estas incoerências como próprio às delimitações da espécie, fazendo uma espécie revisitação de “Freud: a presença da antiguidade clássica” (Ana Lúcia Lobo, São Paulo), há ilustrações recentes que sugerem este apontamento.

Jerónimo de Sousa, o dirigente comunista, no caso mais recente, assacou ao Presidente da República o aforismo – a propósito do discurso nos quarenta anos do 25 de abril!

Um outro caso, porventura mais ou menos prosaico, é também destes dias de Tríduo Pascal. Semana Santa, sexta-feira, procissão do enterro do Senhor – lenta, circunspecta, penumbrante! O percurso, em Aveiro, vai da igreja da Apresentação para a de Nossa Senhora da Glória. As Irmandades ladeiam os andores, um simbolizando o esquife de Jesus e outro o de sua Mãe, na evocação de Nossa Senhora da Soledade. Ato profundamente introspetivo, pela memória, pela sacramentalidade, pela Mensagem. Chegados à igreja de Nossa Senhora da Glória, no epílogo desta liturgia, não é que os Irmãos (da Irmandade) debandam antes de terminar? O Administrador Diocesano, pela Sé Vacante, vai proferir as palavras finais, algumas dirigidas aos próprios, mas o Senhor já não tem lá os seus Irmãos!? Serão seguidores… de “Frei Tomás”!?

terça-feira, 8 de abril de 2014

Desemprego jovem

 

Numa ação concertada da Justiça e Paz Europa, uma rede Justiça e Paz que congrega 30 comissões nacionais de toda a Europa, mandatadas pelas respetivas Conferências Episcopais para se pronunciarem e agirem nas áreas da justiça social, paz e desenvolvimento, há um pronunciamento sério, estudado, na Quaresma de 2014, sobre desemprego jovem, uma crise que ameaça o nosso futuro!

É imperioso realçar a reflexão (excertos) da Justiça e Paz Europa.

Os jovens europeus estão a pagar um preço caro pela crise económica que atravessa a Europa. Embora o problema do desemprego existisse já antes da crise financeira e económica, a taxa média nos países da União Europeia (UE) é cerca de duas vezes superior à da restante população, com vários países a registarem taxas acima de 50%. É importante juntar todas as vozes aos apelos por uma estratégia que combata esta situação de injustiça.

Hoje, a realidade para muitos dos nossos jovens é a de que se encontram excluídos do mundo do trabalho, em resultado das condições económicas e sociais dos seus países e da falta de oportunidades adequadas às suas capacidades e qualificações. As consequências, tanto a nível pessoal como social, são devastadoras. A atual geração jovem pode tornar-se numa geração perdida e o risco de exclusão social associado à idade jovem constitui um sério desafio para as nossas sociedades europeias.

As necessidades do mercado e do setor financeiro foram colocadas à frente das necessidades da sociedade e em particular dos jovens. Eles representam o futuro da nossa sociedade, mas as suas perspetivas de vida têm sido diminuídas e a sua dignidade desrespeitada, correndo o risco de se tornar uma geração perdida. O impacto desmoralizante do desemprego desencoraja muitos jovens de investir na sua formação e de empreender. Outros decidem emigrar procurando melhores oportunidades. Se a liberdade de deslocação de pessoas entre países é certamente bem-vinda, as consequências para as comunidades que perdem um número elevado de jovens, como a portuguesa, poderão ser devastadoras.

É necessário o envolvimento dos empregadores para que se criem genuínas oportunidades de emprego para os jovens. Igualmente importante é a existência de regulação que previna a exploração dos trabalhadores jovens, garantindo que o seu trabalho é remunerado de forma justa e que quaisquer oportunidades de formação e estágio são enquadradas de forma adequada.

É necessário reconhecer que muitos jovens estão desiludidos com as lideranças e processos políticos, que consideram terem ignorado as suas necessidades e preocupações. A generalização desse descontentamento é perigosa para a democracia e ameaça a estabilidade futura da nossa sociedade. Assistimos a nível europeu a manifestações desse desencanto e revolta de forma diversas, incluindo protestos violentos e apoio a movimentos políticos extremistas. Paralelamente a uma estratégia para o emprego, os líderes políticos devem investir na democracia, utilizando mecanismos de consulta que envolvam os cidadãos e os jovens em particular nos processos de solução desta crise.

Neste contexto, os valores que comunicamos aos jovens relativamente ao trabalho e ao emprego são importantes. Os valores fundamentais da solidariedade, bem comum e serviço aos outros podem perder-se na nossa sociedade crescentemente materialista.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Revolução social

 

 

Neste último ano encruzaram-se vários elementos essenciais à ponderação de um pensamento mais social. A vida das pessoas mudou radicalmente. Crescem as tensões. Há sinais de esperança?!

A mediatização do factual, do local, do pontual torna universal o que não o é; confunde-se muitas vezes a parte com o todo ou, numa inspiração comparativa, a árvore com a floresta. Pese embora esta premissa, há em muitos setores da atividade humana a preocupação pelo bem comum. Será por isso a insistência oportuna e importuna, a repreensão, ameaça e exortação com toda a paciência e empenho para instruir, para elevar para patamares de qualidade o que, simples ou complexo, tende-se a vulgarizar – coisas simples, como a produção agrícola, os serviços de proximidade, a energia, a justiça distributiva, o desempenho das instituições, a seriedade dos protagonistas e atores sociais e políticos, os agentes económicos, o bem comum. Provavelmente, chegou o tempo em que os homens e as mulheres já não suportam o que é essencial para a sobrevivência e todos. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustam mestres para si. Apartam os ouvidos da verdade e atiram-se às fábulas: a perspetiva iluminista de uma atitude de vida voltada para a procura egoísta de prazeres momentâneos, o sentido pejorativo de "hedonismo", sinal de decadência.

Neste ano (13.03.2013 – 13.03.2014) o mundo – quem, no mundo, o quer ver para além do umbigo, claro – foi impelido a não se contentar de si e a encontrar o outro, numa rede de relações cada vez mais autenticamente humanas. Apesar dos sinais de discórdia e separação, houve sinais novos, os homens e as mulheres do início de XXI são capacitados a transformar as regras e a qualidade das relações, inclusive as estruturas sociais: pessoas capazes de levar a paz onde há conflitos, de construir e cultivar relações fraternas onde há ódio, de buscar a justiça onde prevalece a exploração do homem pelo homem. Porque somente o sentido do outro é capaz de transformar de modo radical as relações que os seres humanos têm entre si. Inserido nesta perspetiva, todo o homem de boa vontade pode entrever os vastos horizontes da justiça e do progresso humano na verdade e no bem.

O Papa Francisco está a ser um expoente de esperança: vai materializando a Primavera da Igreja Católica protagonizada pelo Concílio Vaticano II e propõe, incentiva, empele, convida, revoluciona (com obras!) todos os homens e mulheres com um humanismo à altura do desígnio de amor de Deus sobre a história, um humanismo integral e solidário, capaz de animar uma nova ordem social, econômica e política, fundada na dignidade e na liberdade de toda a pessoa humana, a se realizar na paz, na justiça e na solidariedade.