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terça-feira, 14 de abril de 2015

A candidatura

 

Há pessoas que nunca foram candidatas a nada! Num país e estado de direito – assumimos a priori as dúvidas que a afirmação suscita – é altamente louvável o passo à frente porquanto os direitos são também deveres. Todos os portugueses deveriam tentar uma candidatura ao serviço à cidadania ativa, como dever ser o cuidado da polis (a política), pelo menos uma vez na vida.

E porque não candidatar-se ao mais alto cargo do país?

Conta-se, como anedota ilustrativa do caráter perante as oportunidades, que, numa determinada esplanada, dois amigos, um deles português e outro de um país muito desenvolvido, enquanto conversavam aproximou-se um automóvel topo de gama. O cidadão português terá olhado com desdém lançado um comentário depreciativo, referindo que não passava de vaidades. Enquanto isso, ao lado, o comentário foi: “belo carro, ainda hei-de ter um”!

Camões disse-o de maneira erudita na figura do “velho do restelo” (Canto IV, 90-104), tantas vezes revisitado.

No momento da largada ergue-se a voz de um respeitável velho que sobressai de entre todas as que se tinham feito ouvir até então. Ela representa todos aqueles que se opunham à louca aventura da Índia e preferiam a guerra santa no Norte de África.

Enquanto outras vozes podem representar as falas das mães e das esposas, a reação emocional àquela aventura, o discurso do velho exprime uma posição racional, fruto de bom senso da experiência (“tais palavras tirou do experto peito”) e do sentido das vozes anónimas ligadas ao cultivo da terra, sobretudo no norte do país, defensoras de uma política de fixação oposta a uma política de expansão com adeptos mais a sul.

E assim, Gama representa o homem sempre insatisfeito que está disposto a enfrentar os mais difíceis obstáculos e a suportar os mais duros sacrifícios para conseguir o seu objetivo. Tinha perfeita consciência da lógica, da verdade e sensatez das palavras do Velho do Restelo, da condenação moral da empresa mas não lhe podia dar ouvidos porque levava dentro de si um incentivo maior e mais forte, um dever a cumprir imposto pelo rei e pela pátria e até um imperativo ético e psicológico. As palavras pessimistas do velho acabam por evidenciar também o heroísmo daquele punhado de homens tanto maior quanto mais consciente. O Velho do Restelo fala como um poeta humanista que exprime desdém pelo “povo néscio” ou seja, o clássico horror ao vulgo.

Se é português de origem, maior de 35 anos, não se gaste a depreciar. Reúna um mínimo de 7500 e um máximo de 15000 assinaturas de cidadãos eleitores e, até trinta dias antes da data marcada para a eleição, apresenta-as perante o Tribunal Constitucional, e candidate-se. Não se gaste desnecessariamente, é mais saudável agir!

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