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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A voz do vento


A experiência sentida e partilhada por milhares de portugueses dá uma dimensão da incapacidade humana perante a força da natureza, onde nos inserimos mas da qual, se dúvidas persistissem, não somos senhores, donos, proprietários.
Estes dias de janeiro até podem ser (deverão ser mesmo!) de poderoso apelo ao discernimento, tal como é cantado nas últimas décadas: se ouvires a voz do vento, chamando sem cessar. Se ouvires a voz do tempo, mandando esperar,… se ouvires a voz do mundo, querendo-te enganar,… a decisão é tua.
Não faltam expressões de espanto perante a força dos elementos. O mesmo espanto é estupefação vistas as consequências: a natureza exprime a sua força e os homens e mulheres do século XXI nada podem! Ficam em casa mas até a casa é arrancada do chão; querem água e nada têm para além da que cai sem cessar; querem o conforto do aquecimento mas até este é retirado; querem comunicar, divertir-se, alimentar-se, cinema,… não têm energia! Reféns frágeis domesticados em conforto, presos a uma linha simples de uma rede, fica-se aturdido quando esta falha. O mais importante da vida, tal como a própria vida, são pequenos filamentos que nos unem.
NB: ainda na “noite das trevas” um canal de notícias transmita o drama humano provocado pela cobiça, instalada no Mali e outros países do Magreb, na exploração do Urânio para as Centrais Atómicas de França e gás natural para “confortar” a Europa.
A obra humana soçobrou! E agora?
Se é aceitável que “palavras leva-as o vento” não deixa de ser importante considerar que há palavras que são obra. Portanto, podem galvanizar, dinamizar o coletivo. É isso que se espera, por exemplo, das palavras de governo, de liderança. Seriam as palavras feitas presença, solidariedade. Não houve ou não se ouviram! Até se percebe, no meio de tantas tempestades estas até podem ser consideradas como menores! Coisas que passam. Seria aqui que, outrora, entravam os Governos Civis… a palavra, a presença dos Representantes junto de quem mandatou para o exercício da governança para dar coesão ao território e a quem o constrói. Tudo o vento levou!
Enquanto o vento varre o país, outras vozes reassumem o comando do mundo. Obama jurou servir a América e, pela influência que detém, também um pouco de cada um de nós. Sopram ventos de mudança na imigração, alterações climáticas, justiça social e política externa assente na paz.
O vento passa a rir, torna a passar,
Em gargalhadas ásperas de demente;
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há-de rir, se há-de chorar!

Vento de voz tristonha, voz plangente,
Vento que ris de mim sempre a troçar,
Vento que ris do mundo e do amor,
A tua voz tortura toda a gente! ...

Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo,
E não rias assim ! ... Ó vento, chora!

Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário,
e a gente andar a rir pla vida fora!! ...
Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"
(in Correio do Vouga, 2013.01.23)

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