O cidadão comum não percebe onde
está a verdade. Qual a mensagem libertadora da confiança agrilhoada!
Entre nós esteve uma Chanceler
Europeia – sem qualquer veleidade, relembramos que esta designação, por ter uma
inspiração clássica, terá tendência, face ao que está em desenvolvimento, a ser
aplicada a todo o império.
Façamos um pequeno exercício de
pesquisa livre…
Na Roma Imperial dava-se o nome
de cancelarius a cada um dos secretários imperiais que se colocavam
atrás das cancelas (cancelli) que separavam o público do recinto onde o
imperador fazia justiça.
Em diversos estados medievais da
Europa, o título de chanceler ou cancelário foi atribuído a altos funcionários
da coroa, que desempenhavam funções semelhantes às dos atuais
primeiros-ministros. O chanceler tinha, normalmente, à sua guarda o selo do Monarca,
sendo responsável por selar, por a chancela, os documentos mais importantes do
Estado.
Também em algumas ordens
militares, o chanceler era o oficial mais elevado.
Atualmente o título de Chanceler
continua a ser usado, com vários sentidos, em diversos países e instituições.
Em alguns casos assume o papel de Imperador ou Chefe do Conselho. Quantos
perigos nesta confusão de sentidos?!
Nada custa, portanto, aceitar o
título imperial que a Alemanha deseja ver concretizado: uma Alemanha Imperial.
Este movimento da “Chancela”,
entre outros incómodos, provoca dois motivos de apreensão porque reflete dois
percursos encapuzados que veladamente estão a alterar, a subverter o rumo da
história e das instituições europeias, transformando-se em autênticos embustes
para os cidadãos.
O primeiro é o da credibilidade
da ética política na construção da Europa, da União, dos Tratados. Serão verbos
de encher!?
Onde está o Alto Representante da
União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança (Catherine Ashton)? E a Presidência do
Conselho Europeu (Herman Van Rompuy )? E o Presidente da Comissão (José
Manuel Durão Barroso)?! O vazio e difusão das competências deve-se a falta de
consensos na concretização dos Tratados ou é intencional para dar espaço a este
desvario?
A segunda questão é, para variar,
sobre o esvaziamento de conteúdo substancial do quadro ideológico da Europa. Um
Continente desnorteado, sem norte, cada vez mais nacionalista, longe das
pessoas e dos seus problemas. A única medida de força está no dinheiro, no
Euro, na desgraça do mesmo; nas Finanças;…
Num mundo cheio de informação,
será à volta destas questões que se pode compreender porque é que não se
consegue vislumbrar uma ideia, uma estratégia similar, para o futuro comum,
entre a Convenção do Bloco de Esquerda, por exemplo, e a “Convenção” Merkel em
Portugal. Estes dois “reencontros” são indicativos do que se passa hoje numa
Sala de Aula: o professor, cheio de boa vontade, qualificação e zelo
profissional; uma maioria de os alunos cheios de informação mas cada vez mais
com menos sentido comum; do outro uma minoria de alunos pautados pela vontade e
determinação na aquisição e desenvolvimento de conhecimentos, novos conteúdos,
que habilitem para responder a um futuro melhor, mais desenvolvido, mais
solidário, mais justo. Mesmo com recurso à formulação metafórica, não é
percetível quem está a desempenhar o papel que serve melhor a todos. Não há
comunicação, apenas monólogos irritantes!
Assim, … a caravana (apenas) continuará
a passar! E em vez de evocarmos que o tempo das vacas gordas já foi, deveríamos
estar empenhados em engordar as escanzeladas!
(in Correio do Vouga, 2012.11.14)
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