Os Jogos Olímpicos estão a decorrer, bem o sabemos, e as expetativas sobre o êxito luso estavam à partida muito minimizadas pelo próprio Comité Nacional. Acreditamos que seja uma jogada de marketing, uma estratégia comunicacional bem urdida. Não nos parece, nem gostaríamos de crer que, a este nível, estas mensagens não façam parte de um plano delineado; se assim não fosse, estaríamos perante uma situação pouco recomendável, pelo grau de amadorismo que revelaria.
A comunicação de que "Esta missão é de longe a mais bem preparada de sempre para entrar nos Jogos Olímpicos. Em 100 anos nunca houve nenhuma equipa portuguesa com tão boa preparação"- Vicente Moura, presidente do COP - e "Estamos otimistas, bem-dispostos, foram quatro anos de trabalho aplicado, toda a gente trabalhou, o Comité, as federações, os técnicos e atletas. Estamos com bom espírito e estou convencido que os resultados vão prestigiar Portugal" revela que houve seriedade de processos, mesmo com cortes orçamentais, e que o país pode e deve exigir… resultados que o prestigiem! Boa mensagem.
Nos jogos, em Londres, verificámos que as condições e instalações para alojamento e provas são ótimas. Ficámos a saber, também pela voz do chefe da missão portuguesa, que tem "boa impressão da organização".
Então, o que são resultados que prestigiam Portugal?
Parece que a resposta é óbvia para qualquer cidadão interessado no assunto e para além dele: resultados pessoais, de cada atleta, em média, para usar de alguma generosidade, iguais ou melhores que os atingidos anteriormente nas provas e especialidades próprias! Parece claro.
Qualquer coisa acima disto é sinal de evolução, de melhoria, de trajeto para o topo, conforme o próprio lema dos Jogos!
Tudo o que seja aquém disto deve ser estudado, investigado em ciências do desporto, em ciências sociais, contextualizado, alterado, explicado para apurar as causas da falha sistemática em momentos decisivos.
Sem um estudo desta constante nacional, a falha nos momentos difíceis, farão passar a ser uma metáfora da vida olímpica portuguesa as palavras de Vicente de Moura, mesmo que queira ficar mais vinte anos, como o próprio parodiou, "Levámos algum tempo a chegar do aeroporto, acho que a pessoa que conduziu o nosso carro não sabia muito bem o caminho”! Portanto, perante resultados abaixo do que cada atleta já atingiu, é muito provável que o condutor não saiba bem o caminho?!
Portugal tem de mudar! Se assim não for, continuará o perdão para os incumpridores e a tolerância para o laxismo, para o insípido, para o aturdido, para o marasmo na vida. Em contraponto, corre-se o risco de quem quer fazer mais e melhor acabar por ser afastado, acusado por querer ser mais do que deve, por estar a querer subir,… no fundo por trabalhar (aspirar) a ser mais!
Enquanto ficarmos anestesiados e enternecidos pela ousadia do fortuito, continuaremos a ser como a Dª Otília Martins, “quem não tem cão, caça com gato”, ou seja, à falta de melhor toma-se o que se tem mais à mão e sai manga para triunfar perante a adversidade, isto é, o larápio indesejado. E o mundo aplaude maravilhado a atleta ocasional!
Mais um ícone ao desenrascanço luso!
(in Correio do Vouga, 2012.08.01)
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