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terça-feira, 3 de abril de 2012

No fascínio da abundância, o deserto!

 

Inspirados, na sequência da passada semana, no tempo que as culturas com uma matriz cristã são convocadas a viver, a Páscoa, somos diariamente confrontados com projetos, ideias, criações sobre a concretização de um determinado padrão de vida que, aproximadamente, se pode resumir em a necessidade provoca o engenho. Ou seja, perante a adversidade pode-se reassumir ou descobrir potencialidades ignoradas ou deliberadamente “arrumadas” nos baús da história.

Dois casos paradigmáticos, os (pre)conceitos associados a “deserto” e a “esquerda” (em italiano ainda é mais sugestivo, “sinistra”). Fiquemos pelo “deserto” inspirador de tantas peças e muito mais evoluções, revoluções, culturas.

Associada à ideia de deserto está um raciocínio prévio de carestia, de privação, de despovoamento. Como se torna evidente, esta será apenas uma perspetiva do assunto; uma perspetiva aliada à visão que se tem do essencial para viver (pessoas, comodidade, água, vegetação abundante,…), para além de outros elementos mais subjetivos de análise, como são os sentimentos de cada um perante vastidão, silêncio, conforto, etc.

Depois, ainda há as metáforas que acabam por transmitir relações pre-configuradas a um determinado conceito: “isto é um deserto de ideias”; “esta terra é um deserto”. São imagens de deserto que não transmitem outra coisa que não sejam limitações da natureza e à natureza humana.

É por tudo isto que será prudente olhar para o deserto e ver aí sinais de abundância; abundância de ideias para superar as limitações, recorrendo a um exercício de inculturação, mas ver, de forma sábia como são todos os que sabem viver bem com pouco, descobrir o melhor.

E sendo verdade que se Maomé não vai à montanha a montanha vem a Maomé, dá a ideia que a segunda parte da premissa está a concretizar-se: uma chuva de areia do deserto atingiu Portugal na última semana!

Não nos faltava mais nada?!

Uma nuvem que transportava areias do norte de África, fenómeno que se verifica com alguma frequência nesta altura do ano, “caiu” sobre nós. As poeiras no ar agravam problemas respiratórios.

Perante um quadro de falta de precipitação, surge uma chuva de poeira do deserto. As poeiras desérticas “sujam” a atmosfera, podem provocar reações nos grupos mais sensíveis, sobretudo respiratórios (alergias, asma), secura na garganta ou lágrimas e, quando “aterram”, deixam uma camada de pó muito fino que se torna bem visível em tudo o que lhes está exposto.

Em síntese, temos de fazer algo mais por nós próprios, retórica demagógica e inquéritos por tudo e por nada não estão a melhorar a nossa vida.

(in Correio do Vouga, 2012.04.03)

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