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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O fim da Era que já era

 

Em consequência da aprovação do Orçamento de Estado para 2012, que por sua vez é consequência - dizem?! - de muitas outras consequências, ficamos a saber que temos de ser mais contidos; ser mais austeros;… eufemismos para aquilo que já era claro: pobres!

Ora, ser pobre é algo que está no nosso “ADN (ácido desoxirribonucleico) social”. Ou seja, nada de novo em si mesmo. Essa Era já nós conhecemos! O problema estará no aproveitamento destes efeitos, a implantação de regimes que se movem sem face conhecida, as forças do “Mercado”, na antropomorfização desse ser que, apesar de animado ,ninguém conhece o rosto, a identidade, como tratou Pedro Birrada num destes dias numa entrevista televisiva.

Que valores vão guiar a economia, a justiça, a indústria, o trabalho, as responsabilidades sociais dos cidadãos?

Que sistema triunfará? Sobrará a democracia? Que democracia?

Que poder sobressairá?

A revolução está em marcha. A Europa já passou à frente do poder representativo. O governo é semi-representativo, a caminhar rapidamente para a oligarquia, a forma de governo e o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. Estados controlados por poucas famílias (políticas, por exemplo) proeminentes que passam a sua influência ao longo de gerações.

Por entre os escombros desta história mal contada, pouco clara, na mesma semana, Portugal aparece no relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) entre as maiores desigualdades sociais, no fosso entre ricos e pobres. Os rendimentos dos 10% mais ricos cresceram a uma média anual de 1,1% entre meados da década de 1980 e finais da década passada, enquanto no caso dos 10% mais pobres cresceu 3,6%. Para o total da população, o crescimento médio anual foi de 2%.

O relatório compara a desigualdade em 1985 com a desigualdade em 2008, e conclui que ela aumentou mesmo em países tradicionalmente igualitários, como a Alemanha, a Dinamarca e a Suécia, onde a diferença entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres passou de 5 para 1 na década de 1980 para 6 para 1 no final da década passada.

Os indicadores de desigualdade, as organizações que os tratam, os relatórios produzidos pouco interesse terão se nada for feito. Ficar-se-á por uma retórica inconsequente.

É preciso mexer com quem mexe connosco, caso contrário até o que temos nos será retirado. Ainda ressurgirá por aí algum Afonso Henriques a intitular-se senhor do que é de quem legitimamente o ganhou, com o esforço do seu trabalho.

Por decreto, despacho, circular, mail ou sms tudo se extingue sem sabermos bem para quê. Os feriados que vão deixar de o ser, estão entre essa prática.

Se o “1 de Dezembro” já era anacrónico (celebrar a restauração da independência num tempo de dependências dos mercados, da Europa, da Alemanha, do petróleo, da eletricidade, do trigo, …), o “5 de Outubro” representa a janela da igualdade de oportunidades, do acesso
à liberdade, do êxodo da vassalagem à identidade de cidadão. Coisas que ficaram no esquecimento.

E com esta, mais que provável, laicização de dois ícones da história portuguesa vem a secularização do Corpo de Deus e da Assunção de Nossa Senhora. Não tarda, com a influência de quem tem dinheiro (a China) para comprar as dividas soberanas, ainda algum primeiro ministro europeu, entusiasmado, sabe-se lá porquê, dá à hipoteca o calendário gregoriano, o nosso, globalmente tido como o ocidental, pelo calendário chinês.

Estamos no ano do Coelho, de 3 de Fevereiro de 2011 a 22 de Janeiro de 2012!

(in Correio do Vouga, 2011.12.07)

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