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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Mercenário e desertor

 

O vocabulário bélico, com um sabor a Legião Estrangeira, apoderou-se do “fair play “ da selecção nacional de futebol.´

Como é do conhecimento público, o internacional português Ricardo Carvalho abandonou, sem explicação devida, a quem de direito, os treinos da selecção nacional. Posteriormente, Paulo Bento, o seleccionador, classificou a atitude como deserção.

Como não há duas sem três, Ricardo Carvalho ripostou aventando a hipótese do treinador, por este exercer o trabalho remunerado, poder ser classificado de mercenário.

O assunto morreu rapidamente; foi abafado por coisas sérias tais como a situação económica das famílias, agora que um ano escolar tem início.

Não queríamos deixar passar este episódio sem dar algum merecido ênfase à terminologia linguística em causa.

Sobre “desertor”. Parece claro que de desertor e de louco, todos teremos (hipoteticamente!) um pouco.

Ora, desertor é aquele que deserta. Isto é, provoca o deserto, o vazio, ou retira-se para um lugar deserto! – o próprio Jesus Cristo, ao ir para o deserto, acaba por ser um desertor!

Se Ricardo Carvalho deixou Óbidos para seguir para Madrid, tem toda a razão. Aquilo nos últimos tempos tem sido um pouco deserto! Se quis deixar o lugar para outro, facilitou o trabalho a Paulo Bento que já estava a preparar –lhe a travessia do deserto, isto é, viagem para o banco de suplentes.

O lado Mercenário do assunto. Em sentido estrito, é aquele que serve por dinheiro, um assalariado. Portanto, de Mercenário e louco todos teremos um pouco!

E, perante o estado a que isto chegou, poder ser mercenário é quase um acto heróico.

Ressalta à evidência que, em ambas as circunstâncias, o que faz uma ou outra situação ter uma leitura pejorativa é a falta de carácter, quer ao abandonar uma responsabilidade quer quando se recebe um soldo por algo ilícito ou demérito.

Não será menos importante considerar que a crise, que agora é económica e financeira, há muito que se instalou com anarquização e laxismo dos princípios e valores da vida pessoal e da vida em comum. – Na nossa opinião, este episódio, como outros, são relevantes disso mesmo.

(in Correio do Vouga, 2011.09.07)

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