Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

Páginas

terça-feira, 14 de junho de 2011

Dar ao verbo

 

Em ambientes rústicos, simples, campesinos, nem sempre necessariamente muito cultos, há expressões do linguajar entre as pessoas que remetem para grande erudição. Entre essas expressões encontramos esta, que encima o apontamento, “dar ao verbo”.

“ Dar ao verbo” utiliza-se para referir os momentos em que as pessoas se entretêm a conversar. Portanto, “dar à palavra”, dialogar. Mas a expressão também é utilizada para reportar significados pejorativos, aqueles que perdem o seu tempo em conversa desnecessária ou aproveitam possíveis pausas no trabalho prolongando-as em demasia. Com o mesmo sentido pejorativo, refere-se quem usa as palavras sem medir as consequências.

Aparentemente saturados de ver países em incumprimento, a Europa, através do Banco Central Europeu, do seu presidente Jean-Claude Trichet, continua a “dar tiros no Porta-Aviões” e, vá lá saber-se porquê, com que intenções, pôs-se a dar ao verbo, na pior das formas. Esta semana, afirmou que os países que não cumpram devem ser penalizados. Ó palavras dadas, porque quem deveria proteger a todos por igual!?

Os mercados financeiros começaram imediatamente a agravar os juros. Os países em dificuldade ficaram ainda com mais dificuldades.

Em Março, o banco da zona euro foi o primeiro dos grandes bancos centrais a subir a sua taxa de juro, levando alguns economistas a acusarem Trichet de estar a precipitar-se. Porque, segundo essas análises, ao mesmo tempo que não resolve a pressão inflacionista em França e na Alemanha, este aumento torna muito mais difícil o período de austeridade nos países periféricos como Portugal, atrasando a sua recuperação.

A lógica parece ser simples. Apesar da subida da taxa de juro tornar a moeda única mais atractiva para os investidores, um euro mais forte torna as exportações europeias mais caras. O problema é, como no caso de Portugal, não houver crescimento das exportações para compensar a contracção do mercado interno em 2011.

Afinal, para que servem estas instituições europeias?! Para “dar ao verbo” fazendo com que os pobres fiquem mais pobres?!

Todas as histórias de alargamentos da União Europeia, os Tratados para fazer desta União uma força que Jean Monet e os visionários da Europa liberta de conflitos e económica e socialmente próspera idealizaram está falida. Falida de conteúdo, de Estadistas.

Os alargamentos mais não foram do que uma extensão de expropriações territoriais, do Atlântico aos Urais, sob o jugo de cobradores de impostos e agiotas. Com as fronteiras mais ao largo, o centro está mais protegido, ou talvez não.

Do triunvirato (carvão, aço e energia atómica dos primeiros momentos) já pouco resta como duradouro. Talvez por isso, surjam por aí umas Troikas; mas, provavelmente, nem elas irão resistir a um ambiente que se quer mais limpo!

(in Correio do Vouga, 2011.06.15)

Sem comentários: