Este título é quase um grito – qual D. Pedro, nas margens do Ipiranga, em 7 de Setembro de 1822, quando na sequência de diversos conflitos de poderes entre as Cortes e a administração da Colónia, o Regente do Brasil declarou o território definitivamente separado da metrópole: "Independência ou morte!".
Este grito (“FÉRIAS”) simboliza tudo o que se pode desejar, depois de uma longa jornada de sucessão de trabalhos, e uma lista de preocupações por não se conseguir chegar lá ou depois de vir de lá – seja esse lugar, momento, tempo onde for!
Fraccionemos as coisas.
A conquista (trata-se de facto e de direito de vitórias difíceis), do tempo para fazer outras coisas, de descansar (passivamente ou activamente), é contemporânea das lutas de outras independências que se iniciaram durante o século XIX, no contexto das revoluções sociais e liberais. No fundo, foi uma parte da emancipação da pessoa para a sua própria realização e afirmação de independência – só reclama independência quem está dependente.
Depois, como noutra ocasião já o referimos, vem o século XX, o 13º mês, e a… dependência das férias para que todos possamos usufruir desse aliciante: gastar o 13º mês!
Voltámos à dependência.
O final de XX e o XXI já vivido, com o triunfo dos hedonismo e individualismo, aliados a bens eternos como a cultura e o princípio de conhecer para compreender e preservar, fizeram o resto. Isto é, se não tem férias não é ninguém; está fora de moda.
A conquista de um direito passou a ser a ditadura de uma vida: pode-se incomodar uma pessoa em qualquer momento, a qualquer hora, todos os dias. O que nunca ninguém faz é perturbar as férias:
- “Estou de férias!”
- “Ah! Desculpe, não sabia. Faz muito bem. Fica, então, para depois!”
E todos vamos vivendo norteados por isto.
Porém, a segunda década de XXI começa com um aviso sério: só faz férias quem pode. O 13º mês é necessário para equilibrar o “extinto” 14º (subsídio de Natal)!
Impõe-se a necessidade de um outro “Ipiranga”, o dos “acampados” (nas praças das nossas cidades) e desempregados: queremos trabalho!
Uns querem trabalho para ter salário para viver, outros para sobreviver e, alguns, ainda pensam que é possível ter tudo o que se conquistou: fartura e férias!
Os tempos mudam! Não mude, no entanto, a convicção e a persistência dos que têm a apetência, competência e possibilidade de incutir e usufruir de hábitos de boa gestão de tempo e, obviamente, de salário para poder viver com elevação e dignidade. Que as férias sejam isto mesmo e uma oxigenação da vida.
(in Correio do Vouga, 2011.07.06)
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