Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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domingo, 2 de setembro de 2007

jnnf, ano XXXVI, nº 378 (Agosto-Setembro 2007)

Acção de Graças pelo Ministério do Pe Artur

Eis-me Senhor, Luz do meu caminho,
leva-me mais longe!
Que a minha atitude seja firme e molde o meu carácter;
Que o meu coração seja dócil e se transmita em olhar límpido;
Faz-me generoso e humilde, como é próprio de quem se guia por dons eternos!
Modela-me para que possa ser pedra viva na construção de uma Igreja mais Santa
e de um mundo mais humano e solidário,
em que cada peça deste maravilhoso puzzle seja o verso da Tua face!
Que seja tudo para todos:
Com as crianças, os idosos e os doentes, os primeiros apóstolos da família;
Com os emigrantes que levam memórias e trazem o pão;
Com os jovens, de abraço fraterno e disponibilidade absoluta para servir;
Com os casais, homens e mulheres das nossas comunidades que, com o seu trabalho,
as suas associações, as suas organizações, nos aproximam das belezas da criação.
Senhor,
A oração das horas de cada dia e no altar da eucaristia
Renove todos os passos da minha vida,
Uma vida que seja oração e consagração em todas as obras que edifique.
E quando o sol aparecer no meu horizonte definitivo,
Que eu esteja pronto para a última jornada!
E quando o meu olhar se declinar sobre a Tua cruz,
e vir nela reflectido o meu próprio rosto, possa testemunhar aos que me confiaste:
“Como S. Paulo, combati o bom combate, guardei a fé!
Que se erga uma nova manhã, plena de vocações,
para continuar a unir como fazem as pontes!”

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

“Correio do Vouga”, 29 de Agosto de 2007

A unir como fazem as pontes!

Todas as construções perduram no tempo quando são bem alicerçadas!
Esta realidade é, humanamente, tanto mais assertiva quanto a mensagem bíblica (Lc 6, 48ss e 14, 28ss) fundamenta toda a vida daqueles que, como o Pe Artur, fazem da solidez de carácter e da persistência inquebrantável um dom ao serviço dos outros.
Sei que por isso, há um traço característico naquele que será para sempre o alicerce (assente sobre a rocha, resistente, rude, sólida), da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima: as obras!
Um sacerdote a quem o Senhor chamou para exercer o seu ministério durante quarenta anos na Póvoa do Valado e Mamodeiro só podia ser – que falem mais alto as memórias de D. Domingos da Apresentação Fernandes e de D. Manuel de Almeida Trindade, o livro “Os de Mamodeiro e o bispo de Aveiro”! - um homem de carácter, que consagrasse toda a sua vida a unir, a construir a unidade.
Mas foi preciso construir tudo: a paridade entre os lavradores abastados e preponderantes e os assalariados vindos quase todos do interior norte do país; criar índices de reconhecimento dentro de cada lugar – o centro do lugar da Póvoa do Valado, por exemplo, ainda hoje é denominado por “Barreiras”, porque ninguém se atrevia a passar sozinho de um lado para o outro, ali era uma barreira intransponível; gerar a comunhão entre as pessoas, independentemente do seu estado económico! Era necessário quem lançasse mãos destemidas à obra: o Pe Artur criou e ensaiou, por celeiros e sótãos, grupos de teatro; incentivou a criação de clubes; apoiou Ranchos Folclóricos; organizou cortejos de oferendas, em que o essencial era as pessoas prepararem (encontrarem-se!) em conjunto uma peça de teatro, uma canção popular, a dramatização de um quadro da vida no campo, para animar os vários desfiles. As noites de Inverno eram animadas por semanas de Pregação – os pregadores mais lembrados são o Frei Avelino e o Pe Andrade!
Fomentou os cursos de agricultura; os cursos para donas de casa; os cursos de órgão; os cursos de catequistas; os cursos bíblicos – quando um adolescente fazia a profissão de fé oferecia, a cada um, uma Bíblia; autocarros de peregrinação a Fátima; viagens de encerramento da catequese (catequistas e famílias)…as semanas de liturgia, mais tarde em Fátima.
Era necessário aproximar os que estavam longe?! Criou o jornal “Notícias de Nariz e Fátima” – para servir as duas comunidades que paroquiava. Nariz desde 1961!
O jornal seria a boa notícia que chegava a todos os lares, também aos emigrantes a quem gostava de visitar para os manter corresponsáveis com as suas raízes. Assumia como imperativo as visitas mensais aos doentes (colocava à porta da Igreja quem, porventura, estava hospitalizado), o sacramento da confissão, a festa da Santa Unção, o Dia da Comunidade Paroquial, Nossa Senhora: todos os dias era fiel à “leitura” – como dizia - das horas e à oração do terço!
E os jovens foram uma preocupação permanente. Desde a primeira hora abraçou os Convívios Fraternos quando o Pe Valente de Matos, seu conterrâneo e fundador do Movimento, o implantou em Portugal e em Aveiro. Mas também nos grupos paroquiais, nos campos de Férias, antecâmara de anos pastorais bem sucedidos!
Mas todas estas obras de evangelização requerem – expressão sua – um espaço para se desenvolverem com dignidade! A dignidade nas celebrações eucarísticas, nas procissões, nos funerais, no apoio social, nos cuidados de saúde,… Porque “na tua vida sê sempre retrato de Deus, nunca sua caricatura”! O Pe Artur anunciava e vivia este lema em tudo o que promovia!
E conquistado o reconhecimento, o afecto das pessoas surgiu a Paróquia, a Igreja (a Igreja!), a residência, o salão, o centro social paroquial, a Freguesia (foi determinante o seu empenho), o posto médico! Renovou todas as capelas. Tudo!
E tudo foi feito com uma diplomacia sagaz! O Pe Artur era mestre na diplomacia, mesmo quando era necessário subverter o adágio: semeava ventos, gerava tempestades porque acreditava na força da bonança que viria depois!
Quando a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima celebrou festivamente as bodas de prata sacerdotais do Pe Artur, em Julho de 1980, foram editadas as tradicionais pagelas evocativas da solenidade. Chamou-me a atenção o lema sacerdotal do Pe Artur “unir como fazem as pontes”!
Passados outros vinte e cinco, confirmava-se então a obra que Deus quis que ele edificasse: unir! Unir todas as pessoas, todos os lugares, unir o que era disperso. Porém, as comunidades de Nariz e Fátima reconheciam, em agradecimento festivo, que o Senhor exigiu também ao Pe Artur desde o início que poderia unir como fazem as pontes mas em primeiro lugar tinha de as construir! Todos sabemos o resto: nem olhou para trás (Lc 9, 62)!

terça-feira, 6 de março de 2007

Ecclesia,, 2007.03.06

O escutismo e a pastoral juvenil
«No escutismo tudo é motivante». «Ser escuteiro é ser corresponsável na acção da Igreja Católica com os jovens».

No último século, a oportunidade mais bem conseguida pela humanidade foi a “descoberta” dos jovens e a abertura destes ao saber, o acesso à igualdade de oportunidades no conhecimento, como meio para desenvolver a civilização.

Quem descobriu esta oportunidade, percebeu melhor que ninguém, a perspectiva etimológica como sistema para o conhecimento: o acesso de todos à escola (do grego scholé, que significa lugar do ócio)! Por isso, fazer escola entre os jovens é proporcionar-lhes a aquisição do saber com um método baseado num processo lúdico. Pelo ócio, no sentido grego, atingir a formação integral. Uma escola ímpar, a escola escutista.

Todo o dinamismo-testemunho, toda a acção com os jovens radicou no que há de mais autêntico na beleza que os jovens possuem: o encontro de cada um consigo próprio! E, por esse método, o encontro complementar, aquele que é feito por cada um com o Outro!

Robert Baden-Powell transformou o jogo em metodologia formativa; a regra em tenda (em espaço de entendimento!); o jovem em protagonista!

Por isso, no escutismo tudo é motivante!

Ser escuteiro, algo que se é para toda a vida, nos vários compromissos que se assumem, é manter a fidelidade aos valores experimentados pelo Fundador, sintetizados naquela que terá sido a sua última mensagem:

“O estudo da natureza mostrar-vos-á as coisas belas e maravilhosas de que Deus encheu o mundo para vosso deleite. Contentai-vos com o que tendes e tirai dele o maior proveito que puderdes. Vede sempre o lado melhor das coisas e não o pior.

Mas o melhor meio para alcançar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros. Procurai deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrastes e, quando vos chegar a vez de morrer, podeis morrer felizes sentindo que ao menos não desperdiçastes o tempo e fizestes todo o possível por praticar o bem.

Estai preparados desta maneira para viver e morrer felizes - apegai-vos sempre à vossa promessa escutista - mesmo depois de já não serdes rapazes e Deus vos ajude a proceder assim.”

Ou seja, o maior movimento organizado de jovens em Portugal, o Corpo Nacional de Escutas, é, em consequência da formação integral que proporciona, a actualização permanente da Mensagem de Jesus Cristo aos Jovens. Por isso, num contexto de reconhecimento pela escola fundada por B. P., no itinerário de formação para os jovens emanam, em cada actividade, as palavras do salmista “ante o esplendor da santidade estarão contigo tantos jovens como o orvalho ao romper da aurora.” (Sal 110, 3).

Neste caminho, chegado à quarta secção, o escuteiro como que retoma a sua promessa e, no momento do discernimento, com o bastão bifurcado perfilado à sua frente, renova os princípios pelos quais norteia as suas opções, começando por o Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida.

E as palavras de S. Paulo, Patrono da Quarta, reacendem, no coração, a missão dos jovens que têm de partir sem abandonarem as responsabilidades, depósito de verticalidade, a que são chamados.

Ser escuteiro, no CNE, é ser corres-ponsável na acção da Igreja Católica com os jovens!, Em cada comunidade, em cada lugar, em cada momento, em cada jovem! È, com carisma próprio, ser protagonista ímpar na evangelização, na pastoral juvenil.

E na acção da Igreja com os jovens tudo é interpelante para todos!

Porque “há diversidade de dons mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios mas o Senhor é o mesmo”! (1 Cor 12, 4-5)

A pastoral juvenil como acção da Igreja com os jovens, na evangelização e na educação cristã, em ordem à opção por Jesus Cristo, à maturidade humana e cristã da fé e ao compromisso eclesial, apostólico e social baseia-se na diversidade de dons – sobretudo dos mais caris-máticos! Este laboratório de fé, na expressão de João Paulo II, quando desenvolvido nas suas máximas possibilidades, é uma escola de vida. Ajudará os jovens a descobrirem respostas de fé para as suas interrogações mais profundas e a assumirem-se como protagonistas da sua própria história e da nova evangelização, exercendo o apostolado, de modo particular, entre os outros jovens. (cfr Bases para a Pastoral Juvenil, 7)

E, sabendo que o património humano, espiritual, orgânico se centra nos jovens, o futuro é apontado, no que diz respeito à solidez da continuidade, como garantido pelos próprios jovens do hoje de cada tempo. Também o futuro da Igreja, na sua renovação sacramental, ministerial e social depende do futuro dos jovens. A expressão do Papa João Paulo II sintetiza essa cumplicidade “a Igreja só será jovem quando os jovens forem Igreja”!

Recorrendo à linguagem simbólica, tão rica no escutismo, a pastoral juvenil desenvolve-se com todos a impelirem a própria canoa! Os escuteiros sabem isso como ninguém! E hoje o rio é mais caudaloso. Só com a audácia de todos é possível remar contra a corrente porque à acção pastoral da Igreja é dado reconhecer que a nova realidade social, em muitas das suas manifestações, tem posto a descoberto, em vários aspectos, alguma fragilidade do processo evangelizador, mormente em relação aos jovens. A missão pastoral, por todos os meios, tem de visar este fenómeno da mutação cultural, pois só assim ajudaremos a que os grandes valores éticos continuem presentes na compreensão e no exercício da liberdade (cfr O novo contexto da luta pela vida. Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa, 16 de Fevereiro de 2007).

O Senhor é nosso guia. Por isso, “há diferentes actividades mas Deus é o mesmo, que realiza todas as coisas em todos” (1 Cor 12, 6). A nossa riqueza está nesta complementaridade!

M. Oliveira de Sousa

Director do DNPJ