M. Oliveira de Sousa |
A ideia de escola há muito tempo (felizmente!) que
deixou de ser um espaço espartano para habilitar as crianças e os jovens para a
disciplina que a vida adulta exige, ou seja, a escola chegou a ser considerado
como o trabalho das crianças e jovens que quanto mais aborrecido melhor porque
ficariam preparadas para alguma literacia e, sobretudo, interpretar e cumprir
ordens. Também evoluiu o currículo. Já não é aceitável a instrução para corresponder
à indústria, agricultura ou mercado de trabalho dos contextos onde está inserida.
A escola do século XXI é partilha de experiências
de vida, é diálogo de culturas, abertura ao conhecimento, às artes, ao mundo. É
laboratório de ideias, de projetos, de desenvolvimento socio-económico. É
trabalho colaborativo de matiz plural. É o início de um novo compromisso
social.
O Estado Social ou Estado-Providência representa
uma conquista histórica e um pilar indispensável da democracia e do desenvolvimento.
A sua forma não é estática nem imune à crítica, antes carece de profunda
reorganização, à luz dos novos desafios colocados pelas economias e sociedades
do nosso tempo. Por isso, as políticas e os serviços públicos são essenciais ao
desenvolvimento e à promoção da coesão social, em diferentes áreas, com
particular destaque em setores como o da educação.
A educação é o primeiro motor de desenvolvimento
humano – dizem todos os relatórios de organismos internacionais, como por
exemplo o do PNUD. Por isso, é imprescindível, para haver desenvolvimento, uma
rede sólida em serviços básicos para o desenvolvimento de um determinado
território – tenha ele a dimensão que tiver (um continente, um país, um
município, uma freguesia).
A dimensão social da escola assenta em três pilares
essenciais: autonomia, projeto educativo (mensurável), sustentabilidade
(humana, financeira,…). E concretiza-se num diálogo inter-geracional (pais,
professores, alunos, avós, netos, antigos alunos, parceiros educativos –
empresas, fornecedores, comerciantes locais) com toda a comunidade educativa
(associações, clubes, grupos culturais, sociedades musicais, projetos de
património local).
Uma escola com autonomia (no âmbito do regime
jurídico de gestão e administração das escolas) nunca perde alunos, nunca se
esgota, é a maior fonte de revitalização de um território, de uma comunidade: é
um organismo (vivo, portanto) durante todos os dias do ano!
A construção de um projeto educativo ao nível
municipal, que defina a vertente educativa do projeto estratégico de
desenvolvimento local, e o sentido da ação educativa do município e o seu modo
de se organizar e de encontrar soluções próprias para a especificidade da sua
realidade, é essencial quando um município reconhece a importância da educação
no desenvolvimento do seu território.
Este referencial de gestão estratégica da educação
ao nível local tem que envolver a visão de todos os intervenientes no sistema
educativo: designadamente as autarquias locais e as escolas, articulados com
todo um conjunto de parceiros: famílias, tecido empresarial, associações
sociais, culturais e desportivas, cidadãos - com todas as oportunidades de
educação não formal e informal, que são proporcionadas por todos os espaços do
território e da vida das pessoas e das comunidades.
Quem quiser matar uma comunidade, comece por fechar
(de supetão ou à mingua) a sua escola.
(in Diário de Aveiro, 2018.11.04)
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