M. Oliveira de Sousa*
in Diário de Aveiro, 04.2020
É inevitável permanecer
no assunto que nos envolve, prende, isola: a pandemia covid’19. É essencial
enfrentar este estado que nos suspende, e enfrentá-lo como protagonista, como
primeiro na ação.
A responsabilidade na
ação, para a grande maioria dos cidadãos, é estar confinado no amplo espaço que
cada um elegeu como seu, como reserva à vida no espaço público e meio físico: a
sua casa! Fácil.
Na tempestade que atravessamos, numa outra metáfora caraterizadora desta fustigação
viral, para não se recorrer a comparações bélicas convencionais, todos sem
exceção são potenciais vítimas, mas também inesperados heróis na frente onde cada
um e cada uma é mais ativo. Por isso, faça-se! Mas o que sabe fazer bem - sem
ser medíocre. Não se esconda; não assobie para o lado; não se distraia do
essencial; não recorra a manobras sisífias. Assuma-se! - com humildade e concreta
solidariedade.
Apoie quem decide e quem faz. Ouça o clamor de tudo e todos os que o rodeiam,
sobretudo de quem mais precisa, decida e faça!
Quem não tem a ousadia de ouvir e cuidar, perde-se. Depois, só por truques ou
malabarismo é que recupera.
2) E preparar o futuro.
a)
O mapa dos estragos. Só podem ser contabilizados, com
algum realismo, na bonança. Porque a noção dos danos nunca é exata durante a
tormenta; a qualquer momento sofre alterações. É um ponto fundamental. Tanto
mais que muito do que se expressa nesta altura, com vontade de, aparentemente
ganhar alguma notoriedade, é feito através das redes sociais. E essas… quem
lança a alma, o melhor de si, na “ventoinha” da internet, corre o risco de
nunca mais conseguir apanhar os estilhaços.
b)
Recuperação económica. Não recuperamos nada nem ninguém com mecanismos baseados na austeridade,
coartar direitos, nivelar por baixo, reduzir o valor do trabalho; com o aniquilamento
dos mais pobres, dos parcos recursos dos que menos podem, com uma economia de
exclusão e de desigualdade social (“esta economia mata” – diria o Papa
Francisco, em 2013).
Uma economia (de solidariedades) requer a combinação
equilibrada entre o mercado, como instrumento principal de coordenação e
organização dos fatores produtivos, como representação e organização política e
institucional da sociedade, e a iniciativa colaborativa dos cidadãos livre e
voluntariamente associados em múltiplas formas de ação, para promoção de
interesses comuns – definição política do Partido Socialista. Vislumbra-se,
neste sentido, uma única via (palavras do Conselho Europeu): seguir uma
estratégia comum em espírito de solidariedade. Investimento, reestruturação dos
mecanismos de produção, desenvolvimento sustentável com novas profissões.
E a nível local, será premente potenciar atividades
promovidas pela economia social e solidária (também!), que criem emprego e
rendimento e deem respostas claras a alguns dos principais desafios da
sociedade. Como as pessoas são o princípio destas políticas, a economia social
e solidária é um instrumento de coesão social e de luta contra a pobreza e empobrecimento.
Respeita e valoriza a diversidade ambiental e promove um mundo mais justo e
mais digno. É relevante considerarem-se os impactos do terceiro setor; a (re)organização
de cooperativas e associações de desenvolvimento local, cultural, desportivo, indústrias
criativas…; mutualidades; instrumentos de habitação acessível; planos de apoio
ao comércio local; definir o teletrabalho; integrar a ciência, a cultura e as
artes como criadores da mudança social e económica.
Manuel Oliveira de Sousa
Presidente do PS-Aveiro
Vereador na Câmara Municipal de Aveiro
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