Em frente, vamos!.

EM FRENTE, VAMOS! Com presença, serenidade e persistência, há boas razões para esperar que isto é um bem...

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segunda-feira, 8 de junho de 2020

O poder do local

in Notícias de Aveiro, 2020.06.07


M OLIVEIRA DE SOUSA - PS Aveiro
O poder do local (esquecido tantas vezes) está a ganhar novas abordagens e oportunidades.
O consumo do descartável; a deslocalização (de empreendimentos), por mera extração de mão-de-obra barata e fuga às responsabilidades sociais, como por exemplo pagamento de salários dignos e de impostos nos países mais escrutinados pelos poderes do Estado de Direito e acordos sociais internacionais; a vida acelerada; algum pedantismo ou preconceito, tantas vezes preso à máxima de que “santos de ao pé da porta não fazem milagres”,… tantas circunstâncias, ou opções, foram relegando para segundo plano elementos fundamentais que o confinamento fez ressurgir: bens de primeira necessidade nas proximidades!
As escolhas de gestão pública, mais ou menos macro, que, pelos mesmos motivos apontados no início, agravados por complexos de afirmação bastante criticáveis, e outros por definição mais ou menos ideológica, tendem a criar periferias e a favorecer  os mais poderosos na bizarra convicção que o mundo é uma selva onde os mais fortes impõem a lei! – felizmente há pensamento e prática política alicerçados na equidade, justiça e solidariedade social em ordem à reta distribuição dos bens e bem comum.
Ainda em contexto de incertezas pela COVID 19, mas também motivados pela esperança, realço a importância do “poder do local” e do “poder local” inerentes ao comércio e à produção. São setores, mas são essencialmente pessoas, famílias, pequenas unidades de produção familiar a quem é urgente dar destaque e incrementar como núcleos essenciais num mundo em mudança, porque induzem o que há de melhor na sociedade global, as potencialidades da ação local:
- adicionam valor nas cadeias comerciais de proximidade (relação direta de confiança de anos de convivência com os clientes de sempre, com redes que conciliam práticas de produção e relação clássicas com métodos inovadores, qualidade de produtos, sobretudo em matéria de bens de produção, evitam as consequências negativas do transporte demorado de produtos alimentares após a colheita, pesca ou abate, uma vez que os alimentos vão perdendo nutrientes. Por isso, quanto menor for o tempo de transporte e distribuição entre a origem e o consumo, maior será a qualidade nutricional do alimento);
- protegem e desenvolvem os patrimónios (história, culturas, biodiversidade, ciclos da natureza, gestão equilibrada dos recursos disponíveis,);
- garantem e empreendem a sustentabilidade socioeconómica das comunidades, famílias, organizações (clubes, associações, …) de vizinhança.
- mantêm a relação direta de confiança de anos de convivência, até porque estes proprietários precisam de ajuda para conseguirem chegar aos seus clientes de sempre, de uma forma mais prática e inovadora.
O mundo começa em cada um de nós -  no local em que cada um vive, interage, influencia!
Na harmonia e biodiversidade do mundo, releva-se a importância de pensar e agir localmente, já! O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e a deterioração do meio ambiente e a da sociedade afetam de modo especial os mais frágeis. Não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental e económica, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social.


 

Manuel Oliveira de Sousa
Presidente do PS-Aveiro
Vereador na Câmara Municipal de Aveiro

sábado, 30 de maio de 2020

Sensatez, proximidade, sobrevivência: Avenida Lourenço Peixinho

in Diário de Aveiro, 2020.05.30


OLIVEIRA DE SOUSA - Aveiro
No essencial, este é um assunto válido para qualquer cidade ou ponto do país. Contudo, é a Aveiro e pelos aveirenses que me dedico. Se houver – acredito que haja! – situações idênticas (obras não-essenciais para o tempo que estamos a viver), sou determinantemente contra.
O que está em causa? – atendendo ao espaço de um artigo de opinião.
Avançar-se com a requalificação da Avenida Lourenço Peixinho ( “a Avenida”), nesta altura, é a tempestade perfeita! É uma asneira de todo o tamanho. Uma insensibilidade reiterada; uma insensatez.
Ir para a frente a qualquer custo, não é forma de gerir o que é de todos. Portanto, servirá, sobretudo, para esvaziar o que ainda resta e resiste! Será para mandar embora todos os que ainda podem sobreviver no comércio local.  Propiciará as condições para pôr o edificado e o comércio a saque da especulação - quem não pode suportar estes embates financeiros, ao sentir a “a corda na garganta” entregará o que é seu por um prato de lentilhas.
Ainda a lutar contras as incertezas, o comércio local e serviços d’ “a Avenida”, como por todo o país e por todo o mundo, têm urgência em reergue-se, em reabrir, em retomar os seus postos de trabalho, … em sobreviver à pandemia!
A procura vai tardar em chegar aos níveis anteriores, não só por causa dos cuidados e falta de disponibilidade financeira interna, mas também por ausência do factor – âncora, que é o turismo. Os apoios são sempre exíguos quando não há vontade de os facultar ou quando a dimensão da necessidade é incomportável para mais.
A uma pandemia não pode suceder-se outra; no caso, evitável: a das obras inoportunas.
E, recordo, as boas práticas sobre a revitalização de ‘Espaços Centrais’ das cidades apontam para a necessidade de intervenção, equilibrada e em simultâneo, em quatro dimensões: organização, desenho urbano, promoção e restruturação económica. É sublinhada a necessidade de uma estrutura de gestão a tempo-inteiro e de uma parceria público-privada forte, e que a par de uma gestão robusta, de uma promoção eficaz e de um compromisso com o desenho urbano se promova a preservação histórica. São, ainda realçadas enquanto funções de gestão - de intermediação mais pragmática - a identificação de comunidades de interesses (entre promotores, consumidores e utilizadores) e a oferta de formação e de assistência técnica.
Há obras que, por mais expressão que possam ter, neste momento apenas podem ser adiadas para não perturbar (ainda) mais a recuperação económica do comércio local, para dar tempo a que as famílias, os gestores e colaboradores das micro e pequenas empresas retomem, no meio da incerteza do tempo que vivemos, paulatinamente a confiança e recuperem minimamente a saúde financeira.

 

Manuel Oliveira de Sousa
Presidente do PS-Aveiro
Vereador na Câmara Municipal de Aveiro

terça-feira, 7 de abril de 2020

Agora e depois disto


in Diário de Aveiro, 2020.04.07


OLIVEIRA DE SOUSA - Aveiro
É inevitável permanecer no assunto que nos envolve, prende, isola: a pandemia covid’19. É essencial enfrentar este estado que nos suspende, e enfrentá-lo como protagonista, como primeiro na ação.
1 - Basta estar em casa, mas não basta!
A responsabilidade na ação, para a grande maioria dos cidadãos, é estar confinado no amplo espaço que cada um elegeu como seu, como reserva à vida no espaço público e meio físico: a sua casa! Fácil.
Na tempestade que atravessamos, numa outra metáfora caraterizadora desta fustigação viral, para não se recorrer a comparações bélicas convencionais, todos sem exceção são potenciais vítimas, mas também inesperados heróis na frente onde cada um e cada uma é mais ativo. Por isso, faça-se! Mas o que sabe fazer bem - sem ser medíocre. Não se esconda; não assobie para o lado; não se distraia do essencial; não recorra a manobras sisífias. Assuma-se! - com humildade e concreta solidariedade.
Apoie quem decide e quem faz. Ouça o clamor de tudo e todos os que o rodeiam, sobretudo de quem mais precisa, decida e faça!
Quem não tem a ousadia de ouvir e cuidar, perde-se. Depois, só por truques ou malabarismo é que recupera.
2) E preparar o futuro.
a)          O mapa dos estragos. Só podem ser contabilizados, com algum realismo, na bonança. Porque a noção dos danos nunca é exata durante a tormenta; a qualquer momento sofre alterações. É um ponto fundamental. Tanto mais que muito do que se expressa nesta altura, com vontade de, aparentemente ganhar alguma notoriedade, é feito através das redes sociais. E essas… quem lança a alma, o melhor de si, na “ventoinha” da internet, corre o risco de nunca mais conseguir apanhar os estilhaços.
b)          Recuperação económica. Não recuperamos nada nem ninguém com mecanismos baseados na austeridade, coartar direitos, nivelar por baixo, reduzir o valor do trabalho; com o aniquilamento dos mais pobres, dos parcos recursos dos que menos podem, com uma economia de exclusão e de desigualdade social (“esta economia mata” – diria o Papa Francisco, em 2013).
Uma economia (de solidariedades) requer a combinação equilibrada entre o mercado, como instrumento principal de coordenação e organização dos fatores produtivos, como representação e organização política e institucional da sociedade, e a iniciativa colaborativa dos cidadãos livre e voluntariamente associados em múltiplas formas de ação, para promoção de interesses comuns – definição política do Partido Socialista. Vislumbra-se, neste sentido, uma única via (palavras do Conselho Europeu): seguir uma estratégia comum em espírito de solidariedade. Investimento, reestruturação dos mecanismos de produção, desenvolvimento sustentável com novas profissões.
E a nível local, será premente potenciar atividades promovidas pela economia social e solidária (também!), que criem emprego e rendimento e deem respostas claras a alguns dos principais desafios da sociedade. Como as pessoas são o princípio destas políticas, a economia social e solidária é um instrumento de coesão social e de luta contra a pobreza e empobrecimento. Respeita e valoriza a diversidade ambiental e promove um mundo mais justo e mais digno. É relevante considerarem-se os impactos do terceiro setor; a (re)organização de cooperativas e associações de desenvolvimento local, cultural, desportivo, indústrias criativas…; mutualidades; instrumentos de habitação acessível; planos de apoio ao comércio local; definir o teletrabalho; integrar a ciência, a cultura e as artes como criadores da mudança social e económica.

Manuel Oliveira de Sousa
Presidente do PS-Aveiro
Vereador na Câmara Municipal de Aveiro